Diante dessa empreitada hercúlea, as oposições precisam se unificar, o que por si só não é algo simples diante da miríade de interesses diversos e antagônicos em questão; definir um projeto que atraia o eleitorado e um nome que possa congregar todas as variáveis envolvidas. Considerando os votos válidos dirigidos aos candidatos da suplementar, mantendo-se os elevados índices de “não voto” — abstenções, brancos e nulos — e ainda a participação, direta ou indireta, da máquina do Estado no processo, ficará muito difícil para os adversários de Carlesse reverterem o resultado em outubro. É uma constatação praticamente matemática, como mostram as análises diversas publicadas pela coluna.
[bs-quote quote=”Resta saber se as vaidades e egos envolvidos vão permitir que cada um se veja de acordo com a realidade do cenário político do Estado, e conforme o tamanho que realmente tem para a disputa, e que não faça a avaliação pelo que vê pavoneado diante do espelho” style=”default” align=”right” author_name=”CLEBER TOLEDO” author_job=”É jornalista e editor do CT” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2018/02/CTAdemir60.jpg”][/bs-quote]
Contudo, o governo do Estado precisará manter sua base unida até as eleições, e a formação das chapas majoritária e proporcionais será um grande teste neste sentido. Essa coesão ainda passa pelo cumprimento dos compromissos feitos na eleição suplementar. Se Carlesse atender esses dois pré-requisitos se tornará um candidato quase imbatível em outubro pela configuração do modelo político-eleitoral do Estado, pelo qual os eleitores seguem a orientação do líder.
Às oposições, porém, cabe executar a única estratégia que pode mudar os rumos do processo eleitoral de 2018: reverter o “não voto”. Elas precisam convencer esse eleitor desmotivado, indignado e desacreditado na política a comparecer às urnas e votar no seu representante. Isso foi inteligentemente percebido pela senadora Kátia Abreu, que encomendou uma pesquisa qualitativa sobre o que quer esse eleitor apático. Os resultados serão apresentados aos participantes da reunião desta sexta-feira.
O “não voto” somou 443.414 eleitores (43,5% do total) no primeiro turno e 527.868 no segundo (51,8%), um crescimento de 19% de um período para o outro, baixo para uma eleição que tinha sete candidatos, dos quais só dois foram para disputa final. Basicamente, parte dos eleitores mais críticos, que tinham acompanhado Carlos Amastha (PSB) e Márlon Reis (Rede).
Isso significa que essa massa de “não votos” é quase estática. Deve se reduzir um pouco em outubro, com o engajamento que será provocado pelas campanhas de deputados estaduais e federais. Mas ainda assim tende a continuar alta, confirmando que esse grupo de eleitores não se sente representado por ninguém na disputa.
Qual a ideia que a Kátia demonstra ter em mente? Entender o que pensa e o que quer esse eleitor, e, a partir disso, definir um projeto de governo e um perfil de candidato que atenda as expectativas. A senadora está corretíssima. É a única saída possível para as oposições: convencer esse eleitor de que os adversários ao Palácio Araguaia possuem um projeto e um candidato que verdadeiramente possa representar os desanimados com a política.
A questão então vai girar em torno de qual projeto e de qual candidato. A própria Kátia vem dois insucessos eleitorais, apesar da vitória extremamente estreita de 2014. Nesta suplementar viu sua votação minguar. Em Palmas, por exemplo, mesmo com dois grandes puxadores de votos — Raul Filho (PSD) e Sargento Aragão (Patriotas) — foi a quarta colocada, com apenas 8,29% dos votos. O resultado pífio se repetiu por todo o Estado, sobretudo nos maiores colégios eleitorais.
Carlos Amastha vive o drama de ter falado demais e agora não pode desdizer. Atacou pesadamente os líderes tocantinenses, colocando a maioria no saco dos “vagabundos” e não consegue a capilaridade que precisa para se tornar um candidato verdadeiramente com condições de vencer. Com a radicalização cega da verborragia sectária do “nós e eles”, se hoje receber aqueles que criticava duramente em seu palanque perde discurso e também grande parte do eleitor que pensava que ele era diferente.
O senador Vicentinho Alves (PR) saiu do segundo turno menor do que no primeiro (127.758 contra 121.908, ou -4,6%), numa campanha excessivamente denuncista e profundamente antipática. Será difícil para ele, neste momento, partir para outra candidatura ao governo. Mas provável que tente a reeleição no Senado.
Essa é uma definição que precisa ser feita internamente com os olhos voltados para o público externo, em que os líderes devem demonstrar a grandeza de ceder, o que exige desapego ao poder. Resta saber se as vaidades e egos envolvidos vão permitir que cada um se veja de acordo com a realidade do cenário político do Estado, e conforme o tamanho que realmente tem para a disputa, e que não faça a avaliação pelo que vê pavoneado diante do espelho.
Buscar os “não votos” é a única forma de as oposições reverterem um já previsível resultado das eleições de outubro. Qualquer outro caminho que escolherem, todos sabemos onde vai dar.
Palmas, 5 de julho de 2018.