O Circo é o mundo do palhaço! Mas se faltam lona, picadeiro e público, infrutíferas são as noites criativas a sonhar com palhaçadas, com gestos e com trejeitos.
O alvorecer é cinza, frio e triste. Apenas o palhaço escuta o eco dos risos a imaginar algazarras de pirralhos semblantes. Acordar é um desespero frívolo, emudecido e opaco.
– Maldito despertar! Melhor teria sido dormir uma noite eterna! Resmungava o artista do riso.
Palhaços melancólicos não atraem ninguém. Quem dirá o “Respeitável Público”.
Outrora, tudo era luz. Tal qual enxames de mosquitos em dia chuvoso, os holofotes atraiam todos os artistas mambembes; trapezistas, malabaristas, contorcionistas, apresentador, dançarinas de sorriso fácil.
O palhaço era as luzes da ribalta: esplendorosa, alegre e atrevida.
As luzes se apagaram. Pouco a pouco, a “sombra midiática” da peste a grassar medo, isolamento e temor
O velho palhaço construiu um enorme legado. Seus shows ficaram, são lembranças preservadas. Deixou herança onde poucos deixam. Era diferente, ousado, destoando dos burocráticos jargões e velhos clichês.
O fardo dos nebulosos dias, dessa pandemia sem fim, arruinou toda e qualquer sorte de espetáculos, seja de ruas, teatros, lonas ou picadeiros imaginários.
Artistas e palhaços viraram fantasmas, muitos incomodados por estarem, ainda, vivos.
As memórias estão vivas. Sonhos felizes. Um patrimônio popular a ser cultuado e preservado.
Os banzeiros do epicentro da pandemia estão a fechar as fábricas de sorrisos.
Se a gente sonha com aquilo que pensa antes de dormir, se a morte for um sono eterno – quem sabe – o palhaço, entristecido a devanear com o seu picadeiro, acorda ofegante, engasgado e moribundo no leito do hospital.
– Cadê o Cilindro de oxigênio. Que palhaçada é essa! – Acabou?
Sufocado, vagarosamente, fechou os olhos, sorriu e morreu.
EDSON CABRAL
É administrador e membro da Academia Palmense de Letras.
ecabral.to@gmail.com