A movimentação dos últimos dias sobre uma suposta orquestração para cassar o mandato da prefeita de Palmas, Cinthia Ribeiro (PSDB), parece que foi mais de seus aliados do que de seus adversários. Não consegui até agora enxergar qualquer tentativa robusta de manobrar esse processo, de forma realmente consistente. A oposição na Câmara se reduz a 6 de um total de 19 vereadores, que não conseguiram sequer aprovar um requerimento para instalar uma comissão processante contra a prefeita, porque a iniciativa foi rejeitada pela base. Os parlamentares contrários a Cinthia não têm poder hoje sequer para aprovar uma indicação, nome de rua ou qualquer dessas bobagens mínimas para dizer a seus eleitores que fazem algo no Legislativo.
A cassação da prefeita, da forma como a teoria da conspiração cogita, via vereadores, é um processo político, que, o sendo, só é possível na Câmara. Se no Legislativo, a prefeita tem a maioria mais do que absoluta, qual o risco de cassação? Parece que estão querendo surfar nessa marolinha criada para fraca oposição — em número e em articulação — e transformá-la em “uma perseguição multi-planetária” contra Cinthia. Exagero aí é pouco.
Alguém poderia dizer que haveriam “forças ocultas” por trás da história. Quem teria como fazer isso seria o Palácio Araguaia, e o próprio governador Mauro Carlesse (sem partido) agiu de bombeiro, conversou com Cinthia e com parte da oposição, jogou água no incêndio e, por fim, ainda convidou a prefeita para se filiar no seu futuro partido, o PSL. Quem faz isso trabalha pela cassação? Método estranho.
Falta habilidade, senso de time e conhecimento de política à oposição à prefeita para conseguir um feito dessa natureza. Se “macacos velhos” como Carlos Braga, Rogério Ramos, Rodolfo Costa Botelho, Rogério Freitas, José do Lago Folha Filho e outros importantes e experientes aliados de Cinthia tomassem uma bola nas costas de um povo tão “verde” nas traquinagens políticas, seria o fim do mundo.
Para cassar qualquer chefe de Executivo, não precisa tanto de fato, esse pode ser fabricado, como uma pedalada fiscal, um Fiat Elba. Basta maioria no Parlamento. Essa condição básica simplesmente não existe na Câmara da Capital.
O que se vê na oposição é muito grito na tribuna e quase nada de articulação. Precisam aprender que política no Legislativo se faz no silêncio, na conversa de pé de ouvido e no regimento. Varre-se para dentro e não se espirra, não se afasta possíveis aliados.
Na verdade, o que vejo nessa “movimentação perigosa”, que “ameaça Cinthia com uma cassação”, com “articulações nada republicanas”, é meramente uma grande jogada do grupo da própria prefeita para vitimizá-la diante dos ataques desarticulados vindos da oposição nas últimas semanas. E os aliados do Paço não estão errados. Cada um faz seu jogo político.
Mas o fato é que em toda essa orquestração de sinfônica desafinada tem muita espuma e pouquíssimo chope.
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Post scriptum
Mortes ainda assustam – Se os casos começam a ceder, parece que o número mais assustador, o das mortes, segue no mesmo patamar. O Boletim Epidemiológico da Sesau desta segunda-feira, 12, trouxe mais 21 óbitos, 10 deles de Palmas. É angustiante.
Irresponsabilidade – A fiscalização interrompeu nada menos do que 16 festas clandestinas em imóveis de Gurupi no fim de semana. Quanta irresponsabilidade! Deveriam multar pesadamente e prender em flagrante dos organizadores.
Desagradou gregos e troianos – O senador Jorge Kajuru (Cidadania-GO) achou que iria contentar todos os lados com sua gravação do presidente Jair Bolsonaro. Como se diz nas redes sociais, pensou que estava “lacrando”. Desagradou gregos e troianos. Bolsonaro o criticou e seu colega Flávio Bolsonaro entrou com representação no Conselho de Ética contra ele por ter gravado o presidente da República em conversa privada. De quebra, irritou os demais senadores e ministros do STF. Jogada mais infeliz impossível.
Até 60 prefeitos – Dirigentes do PSL do Tocantins estão pra lá de animados com a filiação do governador Mauro Carlesse, que ocorrerá nesta terça-feira, 13, às 14 horas. Falam em receber até 60 prefeitos. O DEM, que foi o que mais elegeu em novembro, tem 26 chefes de Executivo municipal.
CT, Palmas, 12 de abril de 2021.