Acusado de crimes contra a humanidade e de outros diversos delitos pelo relatório da CPI da Covid no Senado, o presidente Jair Bolsonaro pode se tornar em breve cidadão honorário de um pequeno município do norte da Itália.
A medida foi proposta por Alessandra Buoso, prefeita de Anguillara Veneta, cidade de pouco mais de 4 mil habitantes situada na região do Vêneto, 80 quilômetros a sudoeste de Veneza. Esse município é a terra natal de um bisavô paterno de Bolsonaro, o que, segundo Buoso, motivaria a homenagem.
“Isso não deve ser algo político. Pensei nas pessoas do meu país que imigraram para o Brasil e construíram uma vida até chegar a presidente, levando o nome de Anguillara Veneta para o mundo”, disse a prefeita em entrevista por telefone à ANSA.
A convocação da Câmara Municipal para discutir a cidadania honorária – a reunião está marcada para segunda-feira, 25 – foi assinada por Buoso na quarta-feira, 20, mesmo dia da leitura do relatório da CPI da Covid no Senado Federal.
Além de crimes contra a humanidade, o pedido de indiciamento escrito pelo relator Renan Calheiros (MDB-AL) acusa Bolsonaro de epidemia com resultado morte, infração de medida sanitária preventiva, charlatanismo, incitação ao crime, falsificação de documento particular, emprego irregular de verba pública e prevaricação.
Também enquadra o presidente em dois crimes de responsabilidade: violação de direito social e incompatibilidade com dignidade, honra e decoro do cargo.
Questionada se estaria confortável em conferir a cidadania honorária a um homem acusado de crimes contra a humanidade, Buoso disse que até quarta não sabia sobre o relatório da CPI.
“Não posso entrar na política brasileira, Infelizmente, o momento não foi favorável, até ontem [quarta-feira] eu não sabia [das acusações]”, afirmou a prefeita. Até o momento, a convocação da Câmara Municipal para discutir a cidadania honorária está mantida. “Não posso dizer mais nada por enquanto”, concluiu Buoso.
Reações
A vice-líder do Partido Democrático (PD), de centro-esquerda, na Assembleia Regional do Vêneto, Vanessa Camani, afirmou no Facebook que não existe “um único motivo válido para sentir orgulho” do presidente do Brasil.
“Não à cidadania para um racista, misógino e negacionista. Causa arrepios a proposta da prefeita de Anguillara Veneta de conferir cidadania honorária a Bolsonaro, conhecido pelos elogios à ditadura militar, pelo desprezo e pelas ofensas às mulheres e aos homossexuais, pelas ameaças de prender adversários políticos ou pelas grotescas acusações contra as ONGs pelos incêndios que devastaram a Amazônia. Por quais desses motivos Bolsonaro merece ser um cidadão honorário?”, questionou.
Já o secretário regional do PD no Vêneto, Alessandro Bisato, disse à imprensa local que a homenagem é um “ultraje inútil” e que Bolsonaro é “alérgico à democracia e aos direitos civis, negacionista da Covid e antivacina declarado”.
“Graças às políticas de Bolsonaro, os brasileiros hoje estão mais pobres, menos seguros e na agonia da Covid. Não há razões humanitárias, econômicas ou científicas para reconhecer a cidadania de qualquer município vêneto ou italiano ao presidente do Brasil”, reforçou.
Por sua vez, Aldo Marturano, secretário da Confederação-Geral Italiana do Trabalho (Cgil) na província de Pádua, onde fica Anguillara, destacou que não havia um momento “menos indicado” para homenagear Bolsonaro.
“A opinião pública mundial tem Bolsonaro em péssima consideração. Em Anguillara, pensam de forma diferente do restante do mundo. Convidamos a prefeita a refletir e voltar atrás nessa péssima decisão”, acrescentou.