Depois da grande expectativa que vinha desde o afastamento do governador Mauro Carlesse (PSL), o secretariado foi formatado à imagem de seu sucessor, Wanderlei Barbosa (sem partido). Como ocorre com toda equipe que inicia os trabalhos, os novos secretários precisarão agora de tempo para tomar pé da situação em que vão encontrar suas pasta, imprimir uma personalidade própria e, então, mostrar resultados efetivos, que é o que toda a sociedade espera. Dessa forma, fazer qualquer juízo neste momento é precipitado, mas não dá para ignorar que alguns pontos do que foi anunciado na noite dessa segunda-feira, 25, preocupam.
A começar pelo maestro dessa sinfonia, o novo secretário da Governadoria, Joseph Madeira. Um gentleman, um empresário muito bem-sucedido, um grande empreendedor de enorme contribuição ao Estado. Além disso, homem da mais extrema confiança do governador Wanderlei. Isso tudo é perfeito, mas falta-lhe experiência política. O cargo que vai ocupar – e pertencia até essa segunda a um dos maiores experts da política tocantinense, Divino Allan Siqueira –, exige muito mais de conhecimento de processos de gestão. É fundamental saber lidar com sua matéria-prima mais elementar, a política e seus meandros, ou o risco de sofrer grandes percalços é muito grande.
Pela boa educação, elevada fineza mesmo, Joseph pode surpreender, e a torcida realmente é nesse sentido, uma vez que o mais importante é o futuro do Tocantins, e o futuro sempre começa a ser construído no hoje. Uma boa recomendação ao novo secretário da Governadoria é que se cerque de auxiliares com mais vivência política para ir abrindo-lhe os caminhos tortuosos. Porque, nesse setor, não raramente eles dão num beco sem saída e muitas vezes num abismo.
Outra preocupação é com a mudança na secretaria da Fazenda. Como já afirmei em outra reflexão, pode-se fazer todas as críticas e acusações que quiserem ao governo Carlesse, mas, sem dúvida, ele foi um marco histórica no que diz respeito à situação fiscal do Estado. Muitos dizem que poderia ter ido mais fundo, que poderia ter feito isso ou aquilo, mas fato é que a gestão do governador afastado produziu, sem dúvida, os melhores resultados para as contas públicas do Tocantins dos últimos 15 anos, pelo menos.
Em grande parte, isso se deve à competência de dois secretários, Sandro Henrique Armando, da Fazenda, e Segislei Silva de Moura, do Planejamento. Os dois aliados aos ex-secretários Divino Allan e o da Casa Civil, Rolf Vidal, representaram uma orquestra extremamente afinada, que gerou essa melhoria histórica e significativa das contas públicas do Estado nestes últimos três anos.
A preocupação é que, dos quatro, apenas um ficou, Segislei Silva de Moura. Na Fazenda entrou um competentíssimo gestor público, o ex-prefeito de Pedro Afonso Jairo Mariano, uma das maiores revelações da política tocantinense dos últimos anos. Além de prefeito destaque, foi um brilhante presidente da Associação Tocantinense de Municípios (ATM) por dois mandatos. Contudo, não tem a experiência com o operacional da economia e das rotinas da Fazenda, que são muito peculiares, sobretudo quando se trata de contas estaduais. Como vai, segundo o Diário Oficial, responder apenas interinamente pela pasta, conclui-se que o governador Wanderlei busca um perfil mais talhado para o lugar do competentíssimo Sandro Henrique Armando.
Também parece inadequada a troca da Secretaria de Indústria, Comércio e Serviços. A saída do empresário Tom Lyra desta pasta para dar lugar a um também empresário, Beto Lima, mas sem as ligações nacionais e internacionais de seu antecessor, é muito preocupante, ainda mais num momento em que o Tocantins clama por atração de investimentos para recuperar terreno no pós-pandemia. Inclusive, grandes empreendedores tocantinenses manifestaram essa preocupação à coluna na noite dessa segunda-feira, quando o site anunciou o substituto de Tom.
Sempre achei que o ex-secretário era a pessoa mais moldada para essa pasta. Primeiro por ser tocantinense nato, de Araguacema, depois pela enorme competência de quem foi um dos mais importantes executivos das indústrias ópticas no Brasil e também na América Latina. Tom, cuja carreira acompanho há quase 20 anos, conhece o mundo como poucos, em incontáveis incursões profissionais pela Europa, Ásia e Estados Unidos. Consequentemente construiu uma rede de contatos por todo o Brasil e o exterior, justamente o que mais o credenciava para liderar a Indústria, Comércio e Serviços. Sabe onde buscar os investidores e o que dizer para eles, com uma credibilidade admirada e reconhecida por todos.
Beto Lima é um empresário tocantinense importante, merece o respeito de todos, mas muito longe desses predicados que tornaram Tom Lyra, sem dúvida, o melhor secretário da pasta das últimas duas décadas. Mas, como observado no início, não devemos fazer prejulgamentos e torcer para que Lima também nos surpreenda e seja uma grande revelação deste time sobre o qual Wanderlei colocou os destinos de seu governo.
Essas observações são importantes não no sentido de desacreditar os que estão iniciando o trabalho, não tenho dúvida de que cheios de boas intenções. Mas para a reflexão de toda a sociedade e para que o próprio governo possa detectar desde já possíveis fragilidades e agir com antecipação para evitar eventuais frustrações.
Afinal de contas, o povo do Tocantins vem se frustrando demais nos últimos anos e não há mais tempo para experimentalismos ou estágios para aprendizado.
A hora agora é de dar um tiro certeiro. É isso que desejamos ao novo governo porque torcemos por ele, como tocantinenses que acreditamos neste Estado, apesar das decepções que nos impuseram a classe política ao longo do tempo.
CT, Palmas, 26 de outubro de 2021.