Os presidentes da Cooperativa Agroindustrial do Tocantins (Coapa), Ricardo Khouri, e da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Tocantins (Aprosoja-TO), Dari Fronza, procuraram o governo do Estado semana passada com uma pauta comum e mais do que justificada: a falta de condições de algumas das nossas principais vias de escoamento de produção.
A questão é que falta pouco mais de 15 dias para que dezenas de caminhões comecem a trafegar por essas estradas para levar o fruto do trabalho dos nossos produtores. Ou seja, prejuízos à vista, aumento de custos e consequente queda da competividade da produção estadual. Em resumo, todos perdemos.
É preciso considerar que não se trata de um problema inesperado, de uma “trágica surpresa”, mas um período claramente definido no calendário anual do Tocantins. Afinal, todos sabemos que dezembro, janeiro e fevereiro são meses de chuvas intensas. Da mesma forma que é de conhecimento que em fevereiro começa o escoamento da produção. Então, por que as estradas, mesmo diante de toda essa previsibilidade, estão em condições precárias? Ressaltando que o agronegócio é o principal motor da engrenagem que faz a economia tocantinense funcionar.
A resposta à questão é a ainda nossa invencível falta de planejamento. Perpassa por várias administrações e, neste ano, agravada pela troca abrupta de governante. O governador Wanderlei Barbosa (sem partido) pegou o bonde andando em outubro e não pode ser responsabilizado por esta situação e pela falta de um planejamento do Tocantins para médio e longo prazos e ainda para as necessidades impostas sazonalmente. Essa programação precisa ocorrer independente de que esteja no comando do Palácio Araguaia. Temos que sair da política de governo para desenvolver uma de Estado.
A área técnica do governo — do setor do agronegócios às obras — tinha que ter em sua programação anual a manutenção das estradas para que, em fevereiro, elas estejam em condições para servir de escoamento à produção. Repito: ninguém pode se dizer surpreendido. Chuvas em excesso? Todo ano tem e se neste foi mais forte há organismos científicos de previsão do tempo que poderiam (e deveriam) ser consultados com antecedência.
Mas essa é só a ponta do iceberg de um Estado que já tornou cultural funcionar conforme as emergências vão se impondo. Não há planejamento. Existem as habituais interferências políticas de um lado para que a coisa pública funcione de acordo com a agenda eleitoral de nossos líderes e, de outro, essas constantes acidentais trocas de governo que dificultam a estabilidade do Estado, e fundamental para que possamos pensar o Tocantins para 10, 20 ou 30 anos.
De toda forma, ainda insisto que essa estabilidade passa, necessariamente, pela maturidade que a nossa classe política ainda precisa alcançar. Não dá para a agenda eleitoral continuar se sobrepondo e ditando nossos rumos, como ocorreu nas últimas décadas, restringindo nossos saltos a medíocres voos de galinha – um Estado que tem todas as condições de fazer um grande voo de cruzeiro.
Por mais que digam ao contrário, não tem o que me convença de que nossa estagnação não passe por essa falta de grandeza dos líderes, que ainda insistem em colocar seus projetos pessoais e eleitoreiros acima do Tocantins.
Enquanto isso, ficamos tratando como tragédias inevitáveis alagamentos, inundações e estradas precárias, como se essas situações não estivessem previstas no calendário anual desde sempre.
CT, Palmas, 17 de janeiro de 2022.