Com o fechamento da janela partidária na sexta-feira, 1º, todo mundo passou a fazer contas de baixas e acréscimos, perdas e ganhos. É normal no fim dessa primeira fase da pré-campanha eleitoral, quando, nas palavras de um amigo, cada time monta seu elenco para a grande partida de outubro.
Na dança das cadeiras, o pré-candidato a governador da oposição Ronaldo Dimas foi para o PL, levou todo o grupo do Podemos que vai disputar vaga na Assembleia e conseguiu um forte apoio dos evangélicos, ao atrair os líderes as duas correntes assembleianas de peso eleitoral, no vácuo da relação desse segmento com o presidente Jair Bolsonaro (PL): o deputado federal Eli Borges (ex-SD) e o ex-deputado federal Pastor Amarildo Martins, por meio do filho, o vereador de Palmas Filipe Martins (ex-PDSB).
Já o Palácio mostrou força junto aos líderes políticos. Tem a maioria dos deputados estaduais — 11 deles foram para apenas um partido, o Republicanos —, além do fato de que a maioria dos prefeitos está alinhada ao próprio governador Wanderlei Barbosa (Republicanos) e a legendas de aliados palacianos, como os senadores Kátia Abreu (Progressistas) e Irajá (PSD), o deputado federal Vicentinho Júnior (Progressistas) e os pré-candidatos estaduais à reeleição.
Ressalto que há uma, digamos, insatisfação cruzada, que também favorece o governador: líderes de musculatura ainda resistem a Dimas e preferem Wanderlei, mas me dizem que vão estar campanha da deputada federal Dorinha Seabra Rezende (União Brasil) para o Senado; e do lado palaciano, rejeitam apoiar a reeleição da senadora Kátia Abreu, mas ficarão no palanque do governador.
Numa e noutra situação, Wanderlei é beneficiado.
A avaliação de que o fechamento das duas correntes assembleianas garante ampla vantagem a Dimas é muito superficial, porque é preciso se aprofundar na leitura do público evangélico. Quem vê esse segmento de forma homogênea não conhece nada a seu respeito. É uma ala altamente heterogênea, e se pulveriza demais num processo eleitoral.
Claro que o apoio da denominação mais representativa do Estado, a Assembleia de Deus, é uma conquista significativa, mas muito longe de envolver todo o conjunto dos evangélicos. Os de linha histórica — metodistas, batistas e presbiterianos, por exemplo — não compartilham da postura político-eleitoral dos penteciostais e neopentecostais. Não misturam igreja com as ambições políticas de seus líderes. Mas é um grupo pequeno, proporcionalmente, dentro desse universo.
Mas mesmo pentecostais e neopentecostais, que encaram com mais naturalidade essa mistura de púlpito e política, estão muito longe de fecharem questão em torno de uma só posição. Entre os próprios assembleianos, a decisão de seus líderes por um candidato é obedecida de forma majoritária, mas não unânime. Outros segmentos pentecostais e neopentecostais também são muito representativos e seguem rumos, na maioria das vezes, opostos aos da Assembleia de Deus.
Nesse sentido, o governador Wanderlei tem maior vantagem ao atrair a maioria dos líderes políticos — deputados estaduais, prefeitos, ex-prefeitos, vereadores e ex-vereadores — para o seu palanque. Porque eles têm votos e os eleitores acompanham sua posição de forma mais coesa, como os números já apresentados por esta coluna mostram. Uma chapa poderosa como a do Republicanos, com nove estaduais buscando a reeleição, pode ser um risco para eles, mas, para o Palácio, uma grande conquista porque terão alguns dos parlamentares mais bem votados defendendo a reeleição do governador.
Ou seja, a diferença entre ter apoio da corrente majoritária dos evangélicos e ter a dos líderes políticos é que enquanto os primeiros se pulverizam em suas diferentes visões de mundo, os segundos se concentram e dão um resultado muito mais efetivo.
Por isso que digo que, nessa balança da janela, o governador Wanderlei saiu muitos passos à frente. Claro, sempre é bom reforçar que ainda há muito jogo para ser jogado.
CT, Palmas, 5 de abril de 2022.