O tambaqui (Colossoma macropomum) é a segunda espécie de peixe mais produzida no Brasil e a terceira espécie mais exportada. Ela é extremamente apreciada pelo mercado consumidor, sobretudo da região norte e centro-oeste do Brasil, apresentam carne de coloração clara e sabor suave e sua comercialização é tradicionalmente feita na forma de “peixe fresco eviscerado” com peso variando de 700g a 4,0kg e rendimento de carcaça em torno de 90%. Dentre as principais vantagens do tambaqui aos piscicultores destacam-se a facilidade de obtenção de juvenis, bom potencial de crescimento e alta rusticidade.
O crescimento da cadeia produtiva do tambaqui tem sido impulsionado, além da grande aceitação do mercado consumidor, pela redução nos estoques naturais de tambaqui e o grande apelo social que a espécie apresenta, em especial par região Norte do país. No estado do Tocantins, é a espécie mais produzida por mais de dez estruturas de produção de formas jovens espalhados no estado, sendo então reconhecido como um grande exportador e consumidor de alevinos e formas jovens produzidos em águas tocantinenses (Costa et al., 2020). Um pouco mais de 90% do pescado produzido é proveniente da produção local de alevinos, além de ser fonte de formas jovens dessa espécie para os estados: Mato Grosso, Goiás, Maranhão e Pará (SEAGRO, 2019). O Tocantins ainda assume uma posição tímida na produção nacional de peixe, quinto lugar (Costa et al., 2020), mas também é conhecido que ainda tem grande potencial a ser explorado por essa cadeia em função de sua localização estratégica e disponibilidade de água disponível.
Há mais de 25 anos, o tambaqui tem sido criado em cativeiros em diferentes estados brasileiros, entretanto, nenhuma melhoria incremental é observada e replicada. Em função da falta de pacotes tecnológicos, como Programas de Melhoramento Genético, a formação de híbridos (estratégia de acasalamento que utiliza o cruzamento de espécies diferentes) tem sido muito explorada para aproveitamento de uma possível heterose pelo cruzamento entre espécies (Serafim et al., 2020). Alguns estudos demonstraram a superioridade do peixe puro sobre híbridos de cruzamentos com tambaqui (Costa et al., 2019; Reis-Neto et al., 2020). Enquanto há descrito trabalhos com caracterização de peso e características morfométricas superiores para animais híbridos comparados aos seus puros (Reis-Neto et al., 2012; Mourad et al., 2018).
Não há informações técnicas (quanto a desempenho zootécnico e aspectos reprodutivos) que subsidiem a promoção do tambaqui puro frente aos híbridos, nem quais os prejuízos causados por perdas quanto ao patrimônio genético existente na nossa fauna. Não há informações que reforcem ainda mais a potencialidade do estado do Tocantins como grande provedor desse material genético nativo, que historicamente já havia se destacado. Ações para caracterizar as espécies e suas potencialidades são necessárias para promoção da espécie nativa e ainda para o fortalecimento do Tocantins como fonte de material seguro para iniciar a produção (com a possibilidade de estabelecer Programas de melhoramento genético do tambaqui), a comercialização de alevinos de tambaqui para diferentes estados do país. Essas ações também contribuem para a segurança alimentar nacional, porque mesmo não sendo a espécie atualmente mais produzida no país, publicações recentes da FAO apontam a necessidade de diversificação de espécies da aquicultura para mitigar efeitos quanto às mudanças climáticas, surtos de doenças, flutuações do mercado e outras incertezas (Harvey et al., 2017; Cai et al., 2022).
LUCIANA SHIOTSUKI
É pesquisadora Genética e Melhoramento Animal da Embrapa Pesca e Aquicultura
Apoio: Fundação de Amparo à Pesquisa do Tocantins – FAPT
Referências
Cai, J.N., Yan, X. and Leung, P.S. 2022. Benchmarking species diversification in global aquaculture. FAO Fisheries and Aquaculture Technical Paper No. 605. Rome, FAO. https://doi.org/10.4060/cb8335en
Costa, A.C., Botelho, H.A., Gomes, R.C.da.S., de Sousa Camposet al. 2019. General and specific combining ability in Serrasalmidae. Aquac. Res. 50, 717–724. https://doi.org/10.1111/are.13913.
Costa, A.C., Reis D.S., Barros, G.S. Censo da piscicultura no Tocantins. Ruraltins- Instituto de Desenvolvimento Rural do Tocantins. Palmas, TO. 2020.
Harvey, B., Soto, D., Carolsfeld, J., et al. 2017. Planning for aquaculture diversification: the importance of climate change and other drivers. FAO Technical Workshop, 23–25 June 2016, FAO, Rome. FAO Fisheries and Aquaculture Proceedings No. 47. Rome, FAO. 166 pp.
Mourad, N.M.N., Costa, A.C., Freitas, R.T.F., et al. 2018. Weight and morphometric growth of Pacu (Piaractus mesopotamicus), tambaqui (Colossoma macropumum) and their hybrids from spring to winter. Pesqui. Vet. Bras. 38, 544–550. https://doi.org/10.1590/1678-5150-PVB-4808.
Reis-Neto, R.V., Freitas, R.T.F.de., Serafini, M.A., et al. 2012. Interrelationships between morphometric variables and rounded fish body yields evaluated by path analysis. Rev. Bras. Zootec. 41, 1576–1582. https://doi.org/10.1590/S1516-3598201200070000.
Reis-Neto, R.V., Hashimoto, D.T., Corrêa, C.F., et al. 2020. Performance of tambacu hybrid (♂Piaractus mesopotamicus x ♀Colossoma macropomum) and its parental pacu (Piaractus mesopotamicus) evaluated in cages under different feeding programmes. Aquac. Rep. 17, 1–7. https://doi.org/10.1016/j.aqrep.2020.100355
SEAGRO – Secretaria da Agricultura, Pecuária e Aquicultura. 2019. Situação da Aquicultura Tocantinense. Secretaria de Agricultura, Pecuária e Aquicultura do Tocantins. Disponível em: https://central3.to.gov.br/arquivo/425909/.
Seraphim, G.do.N., Correa Filho, R.A.C., Nunes, A.L., et al. 2020. Growth curve of pacu and the patinga hybrid farmed in a semiintensive system. Semin. Agrar. 41, 2285–2296. https://doi.org/10.5433/1679-0359.2020v41n5Supl1p2285.