UM PRA LÁ, OUTRO PRA CÁ
A presença do senador Irajá (PSD) no tradicional corte do bolo dos 34 anos de Palmas, na manhã de sábado, 20, na Praça do Bosque dos Pioneiros, foi recebida pelo Palácio como a gota d´água na relação terminal entre a prefeita de Palmas, Cinthia Ribeiro (PSDB), e o governador Wanderlei Barbosa (Republicanos). Isso, somada à ação judicial do Paço contra o governo, num momento em que Wanderlei havia orientado a equipe a buscar uma solução dialogada para a crise da saúde, provavelmente colocou em definitivo os dois líderes em lados opostos.
PRESTIGIADO EM MEIO À TORMENTA
Lembrando que Irajá foi prestigiado por Cinthia dois dias depois de o senador ter tentando jogar o Palácio contra o governo Lula, ao dizer que o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, teria sido “desconvidado” para a abertura da Agrotins na quinta-feira, 18, o que foi cabalmente desmentido pelo secretário estadual da Agricultura, Jaime Café, à coluna. O comandante da Agricultura do Tocantins ainda atribuiu o ataque do senador à sua “meninice” e disse que é “coisa de menino mimado”.
AS ENTRELINHAS DE WANDERLEI
No sábado, dia seguinte à liminar da Justiça para a prefeitura, o governador levou sua equipe e até o promotor Thiago Ribeiro e a senadora Dorinha Seabra Rezende (UB) para uma visita ao HGP. As declarações de Wanderlei à imprensa, na visita, foram repletas de entrelinhas. Ao mesmo tempo em que disse que não quer divergência, mas encontrar caminhos, Wanderlei responsabiliza a prefeitura por enviar à principal unidade de saúde do Estado, cuja prioridade é alta complexidade, “pacientes com pequenas lesões ou com pequena fratura no pé, situações de baixa e média complexidade”. Essas últimas são de responsabilidade do município.
OUTRO SUBTEXTO
O próprio fato de o governo estar oferecendo uma área para a prefeitura construir o hospital municipal tem subtexto. É uma forma de o Palácio dizer ao município que ele precisa assumir sua responsabilidade.
CINTHIA SE ISOLA
Politicamente, Cinthia se isola com o afastamento do governador Wanderlei. Ainda que ensaie uma reaproximação com o senador Eduardo Gomes (MDB), é pouco provável que terá uma segunda chance com o parlamentar depois de deixá-lo na chapada nas eleições do ano passado. Além disso, Gomes está cada vez mais próximo de Wanderlei, e aliados de ambos já anteveem uma dobradinha dos dois nas disputas pelo Senado em 2026. Restará a Cinthia os Abreus, sobretudo Irajá, que foi fragorosamente derrotado em 2022 e com pouquíssima expressão eleitoral nos principais centros urbanos do Tocantins.
A MÃO DE IRAJÁ
Diga-se: nos bastidores da Prefeitura de Palmas há muito que se vê a mão de Irajá no governo Cinthia. A nomeação do ex-prefeito de Paranã Fabrício Viana como secretário de Governo e Relações Institucionais é tida como indicação do senador, ainda que Viana tenha apoiado o deputado estadual Eduardo Mantoan (PSDB) no ano passado. Sempre ligado aos Abreus, dizem que o apoio a Mantoan foi parte do acordo para Cinthia ficar com a candidatura à reeleição da senadora Kátia Abreu (Progressistas), e preterir Dorinha.
AUSÊNCIA DO GOVERNADOR
Outro sinal da claro de que Cinthia e Wanderlei seguirão caminhos distintos a partir de agora foi a ausência do governador no corte do bolo e no desfile de aniversário. No ano passado ele fez questão de participar de toda a festividade.
VIDA POR FICAR MAIS DIFÍCIL NA CÂMARA
Já há quem preveja que Cinthia poderá, a partir deste rompimento, ter vida ainda mais difícil na Câmara, onde já enfrenta uma oposição barulhenta. O governador tem aliados importantes no Legislativo da Capital – como seu irmão, Marilon Barbosa (UB), e outros com a influência obre os vereadores, como Cleiton Cardoso (Republicanos), pai de Pedro Cardoso (UB), e Vanda Monteiro (UB), esposa de Márcio Reis (UB).
NÃO É MOMENTO DE RESPONSABILIZAR
Quem entrou no assunto da crise da saúde foi a senadora Dorinha. Ela contou ter acompanhado o governador Wanderlei na visita ao HGP, no sábado, e garantiu que, da parte dela e da bancada, da qual é a coordenadora, “não serão poupados esforços para ajudar a melhorar essa questão com a destinação de mais recursos”. “Até por obrigação, nós já colocamos 50% das nossa emendas para a saúde, e o volume hoje é bastante significativo”, pontuou nas redes sociais, para ponderar em seguida: “O momento, agora, não é de ficar responsabilizando, mas de construção, planejamento e união”.
JAIR REAGE A BOATOS
O deputado estadual Jair Farias (UB) divulgou nota nesta segunda-feira, 22, lamentando “profundamente” alguns boatos que vêm circulando pelas redes sociais que atribuem a ele a responsabilidade pela transferência do Fórum de Itaguatins para Sítio Novo do Tocantins. Para Jair, “trata-se, na verdade, de falsa informação difundida por desafetos, que, além de desinformados, almejam angariar dissimulado proveito político”.
ATRIBUIÇÃO DO JUDICIÁRIO
Ele garantiu que “jamais atuou no sentido de influenciar na transferência do citado órgão da Justiça para Sítio Novo”. “Até porque cuida-se de atribuição exclusiva do Poder Judiciário do Estado do Tocantins, que é autônomo, independente, cuja integridade rejeita quaisquer interferências”, ressaltou a nota do parlamentar.
É CRIME
Jair lembrou que “difundir informação falsa é crime, e o parlamentar não vacilará em recorrer ao Judiciário para defender a sua honradez, levando-se em conta o alcance que divulgações mentirosas da espécie alcançam”. “Na sua trajetória política, Jair Farias jamais atuou no sentido de prejudicar qualquer município do Tocantins, especialmente na sua região de atuação politico-parlamentar, sempre no compromisso da defesa da autonomia de cada unidade municipal, trabalhando na implementação dos serviços públicos em todos os municípios, sem distinção”, assegurou.
VIOLAÇÃO AOS DIREITOS HUMANOS
Ex-vereador de Palmas e líder estadual do MST, Bismarque do Movimento foi às redes sociais no final de semana para afirmar que está havendo violação aos direitos humanos em Araguaína. Isso porque, segundo alega, o governador Wanderlei, “sem autorização judicial, mandou a Polícia Militar despejar com violência” um grupo de sem-terra acampado às margens da BR-153 nas proximidade do município. “Lutar por um pedaço de terra não crime, e cobrar do poder púbico o direito de ter essa terra está na Constituição”, sustentou o líder dos sem-terra.
ELEITOS COM VOTOS DOS POBRES
Bismarque, então, pediu ao deputado federal Alexandre Guimarães (Republicanos), um dos políticos tocantinenses que combatem o MST, que “pare de perseguir os sem-terra”. O líder camponês disse que Guimarães foi “criado em berço de ouro” e “eleito com os votos dos pobres”. “Faça emendas para garantir o direito dessas famílias de ter um pedaço de terra”, afirmou. Bismarque ainda se voltou para o governador: “Pedir para ele e sua família, que foram eleitos com os votos da classe pobre aqui do Estado do Tocantins, pare de perseguir os sem-terra, faça investimentos públicos para garantir que as terras públicas do Estado sejam destinadas para o fortalecimento da agricultura familiar”.