O presidente regional do MDB, deputado federal Alexandre Guimarães, realiza nesta segunda-feira, 8, a partir das 18 horas, no auditório da Associação Tocantinense de Municípios (ATM), seu primeiro grande evento no comando do partido, que assumiu no início de junho. Estão confirmadas as participações do presidente nacional, Baleia Rossi (SP), dos ministros do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet; dos Transportes, Renan Filho; e das Cidades, Jáder Filho; o líder da sigla na Câmara, deputado Isnaldo Bulhões (AL); e do governador do Pará, Helder Barbalho, a cuja família é atribuída a articulação que garantiu o MDB a Guimarães.
ACORDO COM MDB NACIONAL
As movimentações do deputado tocantinense em torno da sigla começaram ainda no ano passado e foram possíveis, sobretudo, à grande derrocada do MDB nas eleições de 2022, quando a sigla perdeu a cadeira na Câmara Federal e as cinco na Assembleia. Pelo acordo com a direção nacional, Guimarães teve direito à presidência regional e ao comando local nas cidades em que teve mais votos que a ex-deputada federal Dulce Miranda. Onde consseguiu melhor desempenho, Dulce e o ex-governador Marcelo Miranda comandam — casos de Paraíso e Porto Nacional, por exemplo. Já em Araguaína, para ficar num caso, o diretório é do deputado.
COMEÇAM AS TENSÕES
Mas aí começaram as tensões, porque o comando das cidades em que Dulce foi a mais votada ficou para ela e Marcelo, mas Alexandre não ficou impedido de fazer campanha para os pré-candidatos adversários dos emedebistas. Caso de Paraíso do Tocantins, onde o deputado apoia Osires Damaso (Republicanos) contra a reeleição do prefeito do MDB, Celso Morais. Em Dianópolis, o MDB apoia a reeleição do prefeito José Salomão, mas o parlamentar está no palanque de Jailton Bezerra (Republicanos). Como a Coluna do CT revelou, pelo menos dois prefeitos deixaram o partido por conta disso: de Aguiarnópolis, Wanderly dos Santos Leite (Republicanos), e de Palmeiras, Júnior Noleto (UB). Eles disseram à coluna que não sentiam segurança de legenda porque o presidente regional estava em campanha pelos adversários.
EM DEFESA
Quem saiu em defesa de Guimarães nesses dois casos foi o próprio ex-presidente do diretório regional Marcelo Miranda. À coluna Em Off, ele garantiu que os dois prefeitos teriam legenda, justamente por conta do acordo com a nacional que dividiu os comandos locais conforme a votação de 2022. No caso de Aguiarnópolis e Palmeiras, o MDB dessas cidades ficou para Marcelo e Dulce, o que assegurava que os prefeitos poderiam ir à reeleição.
DIÁLOGO TRANQUILO E MADURO
Guimarães também se defendeu na Em Off, no caso de Noleto, afirmando que o prefeito de Palmeiras “desidratou” o partido, ao deixá-lo e levar seus quadros. O deputado confirmou o acordo com a nacional e garantiu que o prefeito teria legenda para ir à reeleição se ficasse no MDB, mas sem o apoio dele, que é aliado do grupo adversário. “Esse foi um diálogo tranquilo, maduro, com a nacional nesse período de transição partidária. Eu fui eleito com pessoas que me apoiaram. E eu fiz a assunção no MDB 20 dias antes de fechar a janela partidária. Então, é inimaginável que eu viraria as costas para as pessoas que me apoiaram. Mas eu garantiria, com tranquilidade, sem nenhum embaraço, a estabilidade partidária [para Noleto]”, afirmou o parlamentar.
CNPJ E CPF
O deputado admitiu que “às vezes é confuso se entender, mas é preciso ter maturidade”. “Antes de ter o CNPJ MDB, tem o CPF Alexandre Guimarães. E, para que eu conseguisse o MDB, eu precisei ser eleito deputado federal, e foram essas pessoas que me apoiaram”, apontou.
POLEIRO DE AVES DE ARRIBAÇÃO
Quem não gostou do que ouviu foi o ex-presidente regional do MDB, ex-vice-prefeito de Palmas e um dos caciques mais respeitados pela legenda, Derval de Paiva. “O MDB, no melhor das colocações que eu possa fazer, terminou como um poleiro das aves de arribação, e não sei até onde a gente acalenta os companheiros que ficam nessa ribalta sem proteção, sem companheirismo do ponto de vista partidário. Eu fico lamentando tudo isso porque a decadência está marcada, os erros se acumulando e o tempo passando”, desabafou.
DISSOLUÇÃO DO DIRETÓRIO
Pouco antes de assumir o MDB, Alexandre Guimarães marcou sua chegada por outro episódio: a dissolução do diretório de Araguaína, que estava sob o comando de um ex-quadro histórico do partido, o ex-vereador José Ferreira Barros Filho, o Ferreirinha. O próprio Guimarães pilotou uma operação para fazer a maioria dos membros do diretório local renunciar para que o órgão fosse dissolvido e ele pudesse colocar uma pessoa próxima para comandá-lo. Com o deputado, o partido ficará com a reeleição do prefeito Wagner Rodrigues (UB), que deve ter o irmão de Guimarães, Israel, de vice. Desgostoso, Ferreirinha trocou o MDB pelo Republicanos, após 50 anos de filiação.
DE CIMA PARA BAIXO
Guimarães é a quarta personalidade que chega ao MDB empurrado de cima para baixo, ou seja, por um acordo com a direção nacional. O primeiro, em 2003, foi o então senador Leomar Quintanilha, que assumiu o comando e abriu uma crise com os demais caciques da legenda, resolvida só nas eleições de 2004.
OUTROS NOMES IMPOSTOS
Depois foi a vez da então senadora Kátia Abreu trocar o PSD (após longa passagem dela pelo PFL, que depois viraria DEM, antes de se fundir com o PSL para formar o União Brasil). Ela chegou à legenda no final de 2013, no meio de uma guerra entre o ex-governador Marcelo Miranda e o presidente do partido, deputado federal Júnior Coimbra. Para as eleições de 2014, Kátia conseguiu uma intervenção nacional, que passou a direção a uma comissão interventora, da qual a ex-senadora era vice e acabou se tornando presidente do MDB. Outra guerra foi iniciada após aquelas eleições, desta vez entre Kátia e Marcelo. Em meio ao racha em torno da cassação da ex-presidente Dilma Rousseff, Kátia acabou sendo expulsa do MDB em novembro de 2017.
SÓ GOMES NÃO PRESIDIU
No final de janeiro de 2019, dias antes de sua posse, foi a vez do senador Eduardo Gomes trocar o Solidariedade pelo MDB, no qual ficou até março de 2022, quando ingressou no PL. Bem no estilo do senador, não houve qualquer tipo de tensão e ele conviveu harmonicamente com os emedebistas históricos. De todos os empurrados pela direção nacional, apenas Gomes não foi presidente regional do partido.