José Antônio Totó Aires Cavalcante, nosso estimado Totó Cavalcante, meu xará, esse sim, foi e continuará para sempre Tocantins. Partiu para as dimensões superiores mas deixa um legado por muito poucos comparado. Não entrou na história do nosso Estado pela janela. Dentre os verdadeiros e autênticos pioneiros, foi um dos que abriram e entraram pela porta da frente e a deixou aberta e cheia de oportunidades para tantos brasileiros e em especial para os compatrícios.
Meu primeiro contato com esse extraordinário tocantinense de coração se deu em março de 1967, portanto há mais de 57 anos. Ele, um nortista, estudante em Goiânia, eu concluindo o ginasial, (hoje seria o fundamental II), em Dianópolis. Ele, líder estudantil membro da direção estadual da Casa do Estudante do Norte Goiano- CENOG, cujo lema principal era TUDO PELA REDENÇÃO DO NORTE DE GOIÁS, ou seja, a emancipação do povo acima do Paralelo 13.
Participou da comissão que tinha como missão promover a eleição daquela entidade estudantil na seccional a ser criada na minha terra natal. Eleição realizada quando fui eleito Presidente e um dos coordenadores da organização do congresso que se realizaria no mês de julho do mesmo ano, (o último realizado antes da interrupção das atividades da CENOG por determinação do regime militar de 1964, que vigorava), que tinha o intuito de consolidar e fortalecer a luta pelo criação do Tocantins.
Mês de julho do mesmo ano, qual seja, 1967, oportunidade de novos contatos com outros dirigentes da CENOG, a exemplo de, além do próprio Totó, Enoc, Getúlio, Delcidio, Willian Sandes, Clemente Barros e tantos outros engajados na luta pela criação do Tocantins.
Com uma chapa pronta, foi divulgada a composição da nova diretoria da CENOG, o que não agradou o exímio articulador que era o Totó. Foi a primeira vez que participei de articulações de uma eleição e saímos vencedores elegendo nossos escolhidos. Ele com aquela pequena estatura mas um vozeirão que impressionava qualquer ouvinte e eu com a agilidade que sempre tive com um microfone nas mãos, seguia suas orientações.
Estreitamos nosso relacionamento, mas o tempo e as circunstância se encarregaram de atribuir a cada um de nós a dedicação na causa da criação do Estado do Tocantins. Ele retornando ao solo do Norte de Goiás e eu residindo em Goiânia para continuar meus estudos a exemplo do que ele já havia feito, quando, então, minha família e eu acompanhávamos o Deputado Siqueira Campos e esposa nas visitas aos tocantinenses residentes em Goiânia e fazendo pronunciamentos em palanques nas campanhas eleitorais, levando a todos a necessidade das reeleições daquele Deputado, visando a criação do Estado do Tocantins. Criado o nosso Estado, Totó foi eleito em 1994 como primeiro suplente do Senador Carlos Patrocínio.
Com certeza é gratificante ao espírito daquele que parte desta efêmera vida deixando rastros e exemplos de dignidade, honradez, desapego ao poder, solidariedade incondicional para com os amigos, essencialmente aos de primeira hora nas dificuldades para alcançar cargos públicos, a exemplo do que sempre fez o cidadão e político Totó Cavalcante. Gestos raros em grande parte daqueles que apenas usaram e usam da boa vontade dos que auxiliam ou auxiliaram nos momentos de embates eleitorais.
Ele fará falta ao Tocantins e em especial para os familiares para os quais deixo aqui minha solidariedade e abraço fraterno.
O nome desse nobre tocantinense estará para sempre esculpido no granito indestrutível da história do nosso Estado. Descanse em paz, amigo, e desfrute da luz plena no mundo reservado aos bons de coração e honestos quando na vida pública!
“Quem tem ouvidos que ouça, quem tem olhos que veja!”
JOSÉ CÂNDIDO PÓVOA
É poeta, escritor e advogado; membro-fundador da Academia de Letras de Dianópolis.
candido.povoa23@gmail.com