Cara deputada Janad,
Gostaria de cumprimentá-la pelo seu desempenho nas eleições de Palmas. Muitos elogios recebidos por sua disposição de realizar diariamente uma maratona de duas dezenas de reuniões nos últimos meses. Saiu-se tão bem nos dois debates de que participou no segundo turno que fiquei pensando no porquê de não ter ido nos confrontos da primeira fase da disputa. Mas eleição é assim mesmo: apenas um vence, apesar do esforço hercúleo que a campanha exige de todos os candidatos. E é para analisar rapidamente com a senhora esse percurso que lhe escrevo este.
Deputada, apesar da enorme estrutura e maciço apoio a seu projeto, acredito que o início extremamente turbulento de sua ainda curta carreira política e a estratégia totalmente equivocada de sua campanha ergueram uma muralha de rejeição a seu nome, e isso foi fatal à sua candidatura.
A forma como se conduziu na Câmara, ainda quando vereadora, trazendo para o plano pessoal uma divergência que deveria ser de ideias, produziu uma inimiga, a prefeita Cinthia Ribeiro, quando ela deveria ter sido tão somente sua adversária. O adversário de hoje é o aliado de amanhã, mas dificilmente o inimigo estará em seu palanque, sobretudo em tão pouco tempo. O mais grave é que essa inimizade não se restringe ao oponente, uma vez que o líder tem, obviamente, muitos liderados e ainda simpatizantes. E todos eles passam a nutrir também ódio pelo inimigo daquele que os conduz e é referência para o grupo. Logo aí, o início de sua sólida rejeição.
Além disso, não havia projeto de cidade em sua campanha para seduzir a maioria dos eleitores. Na publicidade, os entendidos dizem que você não vende produto, mas desejo. E isso lhe faltou. A enorme estrutura ganhou protagonismo, quando era o sonho de cidade que a senhora oferecia que deveria estrelar. Se eleição é sentimento, isso a maioria do eleitorado não viu, apenas uma máquina agigantada que movia numa velocidade alucinada, com líderes de muita expressão e pouca paixão. Porque não havia um sonho para ser sonhado em conjunto com os cidadãos.
Por fim, a cereja desse bolo: a bolsonarização. Por que trazer essa polarização tóxica para uma campanha majoritária? A resposta que me deram no início do ano foi da profundidade de um pires: 60% do eleitorado de Palmas é bolsonarista. Então começou mal porque 40% não o é. Piora a situação pelo fato de claramente a senhora não ser unanimidade entre os bolsonaristas, muito longe disso. A contaminação da campanha por esse debate nacional é deletério, mas se fosse uma eleição de um só turno, vá lá, poderia correr o risco. Mas uma disputa em dois turnos sem que a senhora fosse unanimidade entre os bolsonaristas e com 40% de antibolsonaristas que queriam vencê-la foi contratar uma derrota certa, como se confirmou.
Nessa última etapa da disputa, não havia sequer tempo para tentar uma aproximação com os bolsonaristas que resistiam a seu nome e nem para tentar atrair os antibolsonaristas. O peso da máquina ainda fez a senhora reduzir a diferença na reta final, mas não conseguiria avançar mais por se tratar de uma campanha curta e pelo teto muito rebaixado na sua aceitação, graças ao conjunto desses equívocos aqui mencionados. Por isso, desde que todo esse cenário de sua campanha ficou claro para mim, muito antes das convenções, eu dizia ao meu entorno que a senhora só tinha uma bala na agulha: ou vencia no primeiro turno, ou perdia. E, com três candidaturas de grande conexão popular, nunca essa disputa seria definida em 6 de outubro. As pesquisas mequetrefes que vendiam diferente disso enganavam quem queria ser enganado.
Por isso tudo, enfim, o resultado de domingo em nenhum momento me surpreendeu.
Essa campanha serve de aprendizado para todos nós, e não tenho dúvida de que a senhora pode ainda contribuir muito com o Tocantins e com a nossa Palmas. Tem muita disposição e desenvoltura, como mostrou nos programas de TV, reuniões e debates. Só refletir sobre acertos e desacertos e ajustar os rumos. Muitas eleições estão à sua frente.
Desejo muito sucesso em seu caminho.
Saudações,
CT