Caros prefeitos Eduardo Siqueira Campos, Wagner Rodrigues e Josi Nunes,
Recebi assustado os números do IBGE que mostram que 42.322 pessoas viviam em favelas e comunidades urbanas no Tocantins em 2022, de acordo com censo. As cidades que vocês comandam ou comandarão, no caso de Eduardo — Araguaína, Gurupi e Palmas –, lideram esse triste ranking. Estamos na terceira década do século 21, com a mais alta tecnologia ao nosso dispor, recebendo informações instantâneas das mais diversas partes do globo, comprando e vendendo de forma digital, dirigindo lindos carros elétricos, transpondo milhares de quilômetros em poucas horas com aviões cada vez mais seguros e rápidos, mas ainda não conseguimos vencer um inimigo que nos encurrala desde priscas eras: a desigualdade social. Por quê?
O mundo evoluiu tecnologicamente desde que o homem surgiu na terra. Como conta o grande professor Yuval Noah Harari no seu instigante “Sapiens – Uma breve história da humanidade”, nossa espécie superou o neandertal e sobreviveu a ele pela inteligência. Porque desenvolvemos a capacidade de caçar em grupo e criamos técnicas para derrubar mais mamutes numa tarde do que o neandertal em uma semana. Contudo, apresentamos uma disposição à destruição nunca antes vista neste planeta. O resultado está aí, só olhar a tragédia ambiental que nos cerca.
Descobrimos o fogo e o ferro, inventamos a roda, técnicas de construção, passamos a produzir roupas, calçados e casas que nos protegem das temperaturas mais congelantes. Porém, nossa espécie, o sapiens, tem ainda o mesmo caráter de há 15 mil, 10 mil, 5 mil ou mil anos. Se tecnologicamente avançamos sem precedentes nos últimos 150 anos, em termos de solidariedade e empatia somos os mesmos seres embrutecidos que habitavam cavernas milênios atrás. A derrubada da taxa sobre grandes fortunas pelo nosso Congresso, semana passada, para favorecer um grupo minúsculo de privilegiados, é um átimo dessa nossa histórica e inquebrantável insensibilidade.
Caros prefeitos, toda essa lenga-lenga é para dizer a vocês, como líderes máximos de suas comunidades, que é cruel vivermos em cidades lindas, floridas, exuberantemente decoradas, com portentosos prédios e mansões hollywoodianas, pulsando pujança e escondermos nossa injusta desigualdade nas periferias. É como encobrir a sujeira sob um felpudo tapete persa, longe dos olhos das visitas. Ela continuará existindo, não a eliminamos. Se tivermos asseio, nos sentiremos incomodados, como precisamos nos constranger em morar em belas casas enquanto irmãos se espremem, muitos deles famintos, em barracos insalubres.
É fundamental investir no asfaltamento de nossas ruas, na qualidade dos prédios públicos, em belíssimas praças, mas é tão prioritário quanto dar condições de moradia dignas às nossas famílias, não permitir a favelização de nossas cidades, e promover um amplo processo de inclusão social. Claro que há problemas sérios de regularização fundiária e a necessidade de se buscar recursos — e a bancada federal, tenho certeza, poderá ser parceira de primeira hora, e a estadual não se recusará, creio, a tirar um pouco de emendas de shows para esse fim tão nobre. Fato é que a solução virá se equacionar essa chaga social, essa vergonha para todos nós, for prioridade de gestão.
Não é à toa que vocês, Wagner e Josi, foram reeleitos com elevadíssimos índices de votação e que os palmenses deram oportunidade a você, Eduardo. Todos reconheceram nos três competência e também sensibilidade social para resolver os problemas urbanos mais urgentes. E não consigo ver nada mais urgente do que acabar com essa indecente favelização e combater outra chaga moral para todos nós, a fome.
Vocês estão à altura dessa missão histórica, e não tenho a menor dúvida de que, se a colocarem no mais alto do pedestal de suas prioridades, sairão todos vitoriosos desse bom combate.
Saudações democráticas,
CT