Caro deputado Vicentinho,
Vi e compartilho de suas preocupações manifestadas nas redes sociais sobre a PEC que está propondo o fim da desumana escala 6×1. É verdade, como você diz, que precisamos de um debate mais profundo sobre o tema. Por isso mesmo, nosso pedido para que o deputado também assine a proposta, seguindo exemplo de seus colegas Carlos Gaguim e Ricardo Ayres, justamente para que possa haver essa discussão mais detida a respeito. Não assinar significa interditar um debate que é saudável para a democracia. Essa profunda discussão que você propõe pode aprimorar a ideia ou, se realmente o Congresso enxergar que não há viabilidade, resultará no arquivamento da PEC.
Não é mais aceitável que trabalhadores com remuneração de um, dois, três salários mínimos continuem com expedientes seis dias por semana, com hora uma hora de almoço, deixando a empresa no sábado somente às 13 horas. Com as deficiências do transporte público, dependendo da cidade, chegará à sua casa entre 15 e 17 horas. Se for mulher, pior, porque elas têm jornada dupla e até tripla. Ou seja, o domingo não será suficiente para o descanso. Mal podem ver suas famílias, resolver seus problemas pessoais, cuidar da própria saúde.
É fácil para nós, a classe média, se postar totalmente contra sequer discutir a proposta, com bons salários, empregos criativos, satisfeitos com a vida profissional. Caro deputado, temos uma maioria de trabalhadores que exerce atividades repetitivas ou extremamente pesadas, absurdamente exaustivas, que, por isso, adoecem muito mais, vivem muito mais crises familiares e toda essa rotina extenuante acaba reduzindo seu desempenho no trabalho, prejudicando a própria empresa.
Por que impedir esse debate no foro adequado, a Câmara, pelos mais legítimos representantes populares, vocês deputados? Sobre a reforma administrativa, concordo com você, é fundamental discuti-la, aprová-la e reduzir o tamanho do mastodôntico Estado brasileiro. Mas uma coisa não proíbe a outra.
Simplesmente dizer por instinto que não funciona e que vai quebrar o Brasil ou coisa do tipo não é o caminho. Isso foi dito também pelos escravocratas em 1888 com a abolição, na implantação do salário mínimo na década de 1940 e na do 13º salário nos anos 1960. Só dizer é apenas repetir a retórica de quem não quer e pronto. A vida que está sendo sacrificada com essa jornada escravista não é de quem tem um trabalho criativo, bem remunerado e é “feliz com o que faz”, mas a de um contingente enorme de seres humanos escravizados desses tempos modernos, que perderam o direito à autonomia. Isso não pode ser ignorado. Nem o fim da escravidão, nem a criação do piso salarial e do 13º quebraram o Brasil. A economia se adaptou a eles, e acredito que não vai ser diferente desta vez.
Como o tenho como um homem que preza pela democracia, apelo a você e seus colegas que ainda não o fizeram que assinem a PEC. Isso não significa aprovar a matéria, mas, repito, permitir justamente o que o deputado propôs, que o tema seja ampla e profundamente debatido. Dessa forma, rejeitar o fim da escala 6×1, se restar claro ao final da discussão que ela não tem viabilidade, não é ficar contra o trabalhador, mas interditar essa discussão fundamental e inadiável é, sim, atuar contra essa classe sofrida e explorada há mais de cinco séculos.
Saudações democráticas,
CT