Caro amigo professor Junio Batista,
Uma hora queria me sentar com você para entender melhor a elaboração de questões para concurso, tema no qual o amigo é umas das principais referências do Estado, seja por sua extensa atuação no magistério, seja como autor de alguns dos mais importantes livros sobre o Tocantins, obras fundamentais para quem vai tentar a carreira no serviço público por aqui.
É que fiquei intrigado com o fato trazido a público pela ação civil do Ministério Público Estadual que pede a suspensão e a anulação parcial do certame da educação da Prefeitura de Palmas, e ainda a reaplicação das provas. Os promotores contam em sua peça que em nada menos do que 12 das 15 questões do exame específico para professor do Ensino Fundamental e para supervisor pedagógico; em 9 de 15 para orientador educacional e em 10 de 15 para técnico administrativo educacional – monitor de educação infantil, a resposta era a mesma: “Todas as afirmativas estão corretas”. Nunca tinha visto nada parecido.
Caro Junio, fiquei pensando com meus botões: se alguém que soubesse disso passasse a dica para amigos concurseiros só marcarem “todas as afirmativas estão corretas” nas 15 questões, esses privilegiados teriam acertado a maior parte da prova. Não que acredite que isso ocorreu, apenas que abre, sim, enorme brecha para tal abuso.
Outra hipótese a ser levantada no que o MPE considerou “vício insanável nas provas de conhecimentos específicos” é no caso de alguém que não estudou e resolveu responder apenas uma alternativa, justamente “todas as afirmativas estão corretas”, nas 15 questões. Professor, poderiam ter aprovado candidato sem qualquer preparo para uma área da maior importância à formação humana, a educação infantil.
Conversei com vários colegas seus de ontem para hoje e ouvi muita reclamação sobre essas provas e contra a Comissão Permanente de Seleção da Universidade Federal do Tocantins, a Copese, da Universidade Federal do Tocantins, desde a elaboração do edital até as perguntas formuladas, segundo me disseram, com academicismo excessivo e também com superficialidades rasteiras.
Não defendo a anulação das provas, nem a manutenção do concurso. Não é minha praia e ainda há o sacrifício que fazem concurseiros e suas famílias. Mas achei um absurdo o que a Promotoria mostrou. De 60% a 80% das respostas na alternativa “Todas as afirmativas estão corretas”! Impressionante.
Diante do que o MPE aponta, não seria surpresa se a Justiça atendesse o pedido. Aí a irritação de quem realizou o certame não deveria recair sobre o órgão que cumpriu seu papel fiscalizador, como já tenho visto nas redes antissociais, e, sim, contra aqueles que elaboraram o exame de forma tão questionável, para dizer o mínimo.
É um assunto muito delicado, amigo, e que exigirá extrema sabedoria do Judiciário. Mas qualquer que seja a decisão do magistrado, não há do que reclamar, porque o que foi feito fragilizou a segurança do concurso. Trata-se de um imbróglio criado sem a menor necessidade e que mostra que a Copese precisa rever essa prática, que, no mínimo, levantou dúvida sobre a qualidade das provas que aplicou nesse certame.
Saudações democráticas,
CT