Caro vereador Elias Júnior,
Imagino seu susto na tarde desse domingo ao flagrar o desabamento da Ponte JK, que liga nossa Aguiarnópolis a Estreito, do Maranhão. Seu vídeo é clara evidência da precariedade dessa fundamental estrutura para o escoamento da produção brasileira e do absurdo desdém com que as autoridades responsáveis pela manutenção tratavam do caso. Simplesmente fingiam que nada estava ocorrendo e agora se mostram atarantados como baratas borrifadas por inseticidas.
Contudo, vereador, o desespero neste momento, na verdade, é para parecer a todos que agem, como se esse desabamento não tivesse nada a ver com o descompromisso delas com o interesse público. Querem tirar das costas a responsabilidade por essa omissão que resultou em várias mortes, na poluição do Rio Tocantins e em prejuízos financeiros enormes para empresas e contribuintes. Mas precisamos ressaltar sem margem à dúvida: o governo federal é o culpado por essa tragédia absurda e facilmente evitável se houvesse zelo, sensibilidade, compromisso efetivo com a população e com o País.
Aqui próximo, em Porto Nacional, quando o então governador Mauro Carlesse interditou a ponte em fevereiro de 2019 foi a maior gritaria. Também havia o temor de que pudesse desabar. Na época eu já dizia que ele estava corretíssimo. Qualquer outro dano é pequeno diante da perda de um filho, um pai e uma mãe. Essa lamentável tragédia que assistimos horrorizados nesse domingo deixa isso claro. Parece que um pai gurupiense sobreviveu, mas perdeu esposa e filhinha. Como viverá a partir de agora?
Nossas autoridades amam desfilar sob os holofotes como se fossem popstars ou herdeiros da monarquia, quando deveriam se comportar (e nós deveríamos tratá-los) como o que realmente são: meros servidores públicos que receberam procuração dos cidadãos para cuidar dos interesses coletivos. De outro lado, vereador, insisto num ponto em que já sou visto como chato: pla-ne-ja-men-to. Se isso houvesse neste país do improviso, há muito tempo essa ponte já teria sido restaurada ou outra construída sobre o Rio Tocantins. Porque quem planeja define prioridades, se antecipa a problemas e também a riscos de acidentes.
O pior, Elias Júnior, é saber antecipadamente que nada vai ocorrer com ninguém. Não haverá responsabilização, os verdadeiros causadores dessa tragédia jogarão a culpa na ponte e nas vítimas, por estarem passando justamente no local na hora do desabamento. Contratarão advogados a peso de ouro e avocarão a teia burocrática que serve para isso mesmo, para ninguém ser efetivamente responsável por nada. E a vida — a deles, não a das vítimas — seguirá normalmente, como se nada de grave sua irresponsabilidade e omissão tivessem causado. Tem dúvida? Veja, amigo, os exemplo infinitos: Brumadinho, Mariana, etc.
Meus cumprimentos por cumprir seu papel neste país em que o improviso e a irresponsabilidade são “cláusulas pétreas” do manual de procedimentos de nossas autoridades.
Saudações democráticas,
CT