Caro prefeito José Fontoura,
Cumprimento você por trazer à baila essa situação da Ferrovia de Integração Oeste-Leste, a Fiol, de interesse não apenas de Figueirópolis, mas de todo o Tocantins, de seus parceiros de Matopiba — Maranhão, Piauí e Bahia — e ainda do Pará. Quis sair dessa caça por culpados e ouvir quem realmente conhece o tema para compreender o caso e escrever-lhe. Por isso, conversei com empresário que participou do início da Fiol, lá nos idos de 2010. A principal conclusão a que cheguei após esse interlóquio, prefeito, é que você fez muito bem em alertar governo do Tocantins e a bancada federal. Sem mobilização política forte, podemos mesmo ser retirados do traçado.
Essa ferrovia surgiu para ser essencialmente baiana, transportando minérios de Brumado, no centro-sul do Estado fronteiriço, para Ilhéus, no litoral, onde até hoje tenta-se implantar um porto. Brumado conta com a terceira mina de magnesita do mundo e a segunda de talco do Brasil. Contudo, prefeito, a Valec avaliou que precisava agregar valor e decidiu esticar os trilhos até São Desidério, também na Bahia, para transportar soja da região de Barreiras a esse porto que um dia pretende-se que esteja funcionando em Ilhéus.
Foi o então presidente da Valec, José Francisco das Neves, o Juquinha, que teve a ideia da integração da Ferrovia Leste-Oeste com a Norte-Sul, em Figueirópolis, agregando ainda mais valor e ampliando a capacidade do Brasil de escoar a produção. Contudo, veio o escândalo da Valec e tudo parou. Como o tempo faz o fogo esfriar, o presidente Lula retomou a ideia no ano passado e anunciou o início da primeira etapa das obras da Fiol, no trecho de Caetité, no sudoeste baiano, a Ilhéus, obra de 537 quilômetros de extensão, passando por 19 municípios, e integrante do novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
O que acontece, Fontoura, é que há dois movimentos para tirar sua Figueirópolis do traçado. O primeiro é da Bahia, que não tem interesse em fazer a integração com a Norte-Sul. A preocupação dos líderes baianos, de acordo com esse empresário, é de que os produtores do agro do Matopiba e do Pará, ao invés de utilizar a Fiol rumo a Ilhéus, prefiram ir até a Norte-Sul em Figueirópolis, com opção de mandar sua produção para os portos de Itaqui (MA), Santos (SP) ou Paranaguá (PR).
De outro lado, Goiás quer dar um jogo de corpo em Figueirópolis e colocar a goiana Mara Rosa no traçado para ligar a Fiol à Ferrovia de Integração Centro-Oeste (Fico). Esse entendido no assunto, prefeito, afirma que a Bahia também é contra por causa do mesmo problema: abrir-se a possibilidade de esvaziamento do futuro porto de Ilhéus.
O que esse empresário defende, Fontoura, é que 1) a disputa é essencialmente política, por isso, mais uma vez, você fez muito bem em trazer o debate a público; e 2) o Tocantins sozinho não tem força para segurar esse rojão. Como vamos enfrentar Bahia e Goiás? Só há uma saída: chamar Pará, Piauí e Maranhão para engrossar o caldo.
Assim, claro que não é possível cobrar que o governo do Tocantins resolva por si só o problema. Contudo, também é verdadeiro que os interesses do Estado são enormes nesta história. Por isso, o Executivo tocantinense, a bancada federal e a própria Frente do Agronegócio precisam mobilizar a força política desses vizinhos — Pará, Piauí e Maranhão — e pressionar seriamente o governo federal.
A hora agora, portanto, não é de ficar em busca de culpados, mas de unidade de todas as forças para impedir que, mais uma vez, o Estado seja tratado como “norte de Goiás”, como naquela discussão da duplicação da BR-153 de Aliança (TO) a Anápolis (GO), quando Brasília queria que pagássemos pedágio para garantir ampla rodovia a Goiás e que esperássemos duas décadas para ter o mesmo benefício. Bancada e ATM pressionaram e a coisa foi pelo menos remediada, com os excedentes do leilão da concessão assegurados para antecipar a duplicação do trecho do Tocantins.
Desta vez, prefeito, o prejuízo do Estado sequer poderá ser remediado. Ou estaremos no traçado, ou fora dele. Por isso, essa mobilização é inadiável.
Parabéns mais uma vez por sua postura e feliz 2025.
Saudações democráticas,
CT