Estreia da semana, o quadro CT Entrevista, com o jornalista Cleber Toledo, trará conversas com personalidades e autoridades dos mais diversos setores sobre temas postos em pauta por sociedade e governo. A primeira edição é com o engenheiro elétrico, ambientalista e especialista em agroenergia e energia renovável, Paulo Corazzi. Ele, que há 34 anos trabalha com energia renovável, explica o que é sequestro de carbono e o mercado de crédito de carbono, que está na prioridade da agenda do governador Wanderlei Barbosa (Republicanos), em missão na Suíça desde o dia 21 para tratar desse assunto.
PÉSSIMO NEGÓCIO
Corazzi definiu o REDD+ como “péssimo negócio” para o Tocantins. “A renúncia econômica [do Estado] é muito grande. Esse REDD+, para o Tocantins, é um péssimo negócio. Para ganhar R$ 2 bilhões, você faz uma renúncia de R$ 300 bilhões. Não tem cabimento”, disse. Para ele, “o REDD+ trucida a economia”.
PIB DE R$ 200 BI EM 10 ANOS
E o especialista coloca isso em números. Ele não acredita que o Estado capte os R$ 2 bilhões ou R$ 2,5 bilhões até 2030, como tem anunciado o governo, com 30 anos de restrições de área, mas, de toda forma, lembrou que o PIB tocantinense está em torno de R$ 63 bilhões, com a perspectiva de chegar a R$ 100 bilhões em até cinco anos e em R$ 200 bilhões anuais em dez anos. “Então, qualquer restrição que a gente gerar, face ao crescimento do PIB, é muito dinheiro”, alertou.
A CONTA NÃO FECHA
Para ilustrar, Corazzi colocou que se o Estado gerar uma restrição de 5% por causa do REDD+ — área que deixaria de ser usada para expansão da produção por conta do programa –, para um PIB de R$ 200 bilhões, equivaleria a uma renúncia de R$ 10 bilhões por ano, que, em 30 anos, somaria R$ 300 bilhões. “Isso para ganhar R$ 2 bilhões. A conta não fecha”, concluiu.
EFEITO NULO
De outro lado, lembra ele, o efeito em termos de redução de emissão de carbono é nulo. O REDD+ está baseado, explicou, numa equivalência emissão-desmatamento. Essa troca de permitir que o mundo desenvolvido continue poluindo porque mantém floresta em pé nos países emergentes, disse Corazzi, não resolve o problema da emissão de gás carbono e só renúncia econômica por aqui. “Existem os créditos de sequestro de carbono, mas os créditos REDD’s são muito piores porque você não sequestra carbono, simplesmente mantém um estoque. […] Vamos pensar do lado da natureza: você acha que é possível preservar um hemisfério do planeta e deixar o outro totalmente destruído? A natureza não funciona assim, ela está no mundo inteiro. Todos os biomas do mundo têm que dar sua cota de preservação”, ressaltou.
TOTALMENTE INSIGNIFICANTE
O especialista ainda disse que vê com restrições o projeto de restauração florestal, através da empresa Tocantins Restaura, cuja criação o governador Wanderlei anunciou em Zurique, com investimento inicial estimado de R$ 120 milhões. A primeira área a ser recuperada deverá ter até 12 mil hectares. “Primeiro que é uma área totalmente insignificante”, avaliou. “Vejo isso mais como um veículo para receber as antecipações do crédito do REDD+.”
Assista a íntegra da conversa: