Aos homens e mulheres de boa vontade,
A ressurreição de Jesus, a vitória Dele sobre a morte e também sobre a maldade humana que o vitimou, sempre é o ponto alto da Semana Santa. Um mero filho de carpinteiro que pregava amor ao próximo e aos inimigos venceu o maior adversário do homem. Apropriando-me das palavras do apóstolo Paulo, as coisas loucas confundindo as sábias; as coisas fracas confundindo as fortes.
De acordo com a Bíblia, a vida e a ressurreição do Cristo mudou para sempre seus primeiro seguidores. Os covardes encontraram uma coragem descomunal para dar o testemunho e, simplórios, se tornaram sábios. Todos tiveram uma passagem violenta para o encontro definitivo com o Mestre. Nenhum ficou rico, não foram prósperos. Dizem que Pedro, o que negou Jesus três vezes, se achou indigno de ser crucificado na mesma posição que o Filho de Deus e exigiu que o pregassem de cabeça para baixo.
Caros homens e mulheres de boa vontade, não há nos Evangelhos qualquer preocupação do Senhor em ganhar dinheiro e em assegurar que seus seguidores seriam dignos de prosperidade nos padrões deste mundo que as Escrituras dizem que “jaz no maligno” (1 João 5:19). Muito pelo contrário: “Se alguém quer vir após mim, negue a si mesmo, dia a dia tome a sua cruz e siga-me”. Está lá em Lucas 9:23.
O Mestre nunca mandou metralhar ninguém, nem eliminar os que pensam diferente, muito menos usar armas, violência ou alegrar-se com a tortura e fazer apologia a torturadores — Ele mesmo foi torturado antes da crucificação. Os senhores e senhoras podem se surpreender, mas leiam o que Jesus recomendou: “Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo, e odiarás o teu inimigo. Eu vos digo, porém: Amai vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem” (Mateus 5:43–44).
O Cristo ainda não vivia entre os religiosos para aparentar uma falsa santidade, não discriminava qualquer ser e condenava os fariseus pela hipocrisia, dos quais era alvo. Leiam este trecho e pasmem: “Veio o Filho do Homem, comendo e bebendo, e dizem: Eis aí um homem comilão e beberrão, amigo de publicanos e pecadores” (Mateus 11:19).
E para quem acha que é “comunista” quem quer ajudar o próximo, quem prega que a solidariedade deve prevalecer sobre os interesses individuais, pincei uma grande surpresa bíblica:
“Quando o Filho do homem vier em sua glória, com todos os anjos, ele se assentará em seu trono na glória celestial. Todas as nações serão reunidas diante dele, e ele separará umas das outras como o pastor separa as ovelhas dos bodes. E colocará as ovelhas à sua direita e os bodes à sua esquerda. Então o Rei dirá aos que estiverem à sua direita: ‘Venham, benditos de meu Pai! Recebam como herança o Reino que foi preparado para vocês desde a criação do mundo. Pois eu tive fome, e vocês me deram de comer; tive sede, e vocês me deram de beber; fui estrangeiro, e vocês me acolheram; necessitei de roupas, e vocês me vestiram; estive enfermo, e vocês cuidaram de mim; estive preso, e vocês me visitaram’. Então os justos lhe responderão: ‘Senhor, quando te vimos com fome e te demos de comer, ou com sede e te demos de beber? Quando te vimos como estrangeiro e te acolhemos, ou necessitado de roupas e te vestimos? Quando te vimos enfermo ou preso e fomos te visitar?’ O Rei responderá: ‘Digo a verdade: O que vocês fizeram a algum dos meus menores irmãos, a mim o fizeram'”. (Mateus 25:31-40).
As palavras de Jesus confirmam o que apregoa o grande Papa Francisco, que, pela bondade, misericórdia e solidariedade, também é tido como “comunista” nestes tempos insanos: “Estar do lado dos pobres é Evangelho, não comunismo”.
Caros homens e mulheres de boa vontade, em meio ao reacionarismo e à ignorância de hoje, tentam legitimar o individualismo e os interesses de grupos privilegiados com um discurso que procura esconder essas verdadeiras intenções atrás de uma pseudo defesa da liberdade. Assim, nunca foi tão necessária a ressurreição. Isto é, ressuscitar a alma olhando para os menos favorecidos. Isso vale para o cotidiano, e também para a política. Vamos seguir o ensinamento de outro exemplar discípulo do Cristo, Dom Pedro Casaldáliga: “Na dúvida, fica com os pobres”.
Feliz Páscoa a todos e todas!
CT