Caros irmãos católicos,
A morte do papa Francisco foi um duro golpe para aqueles que defendem um mundo de inclusão, de respeito e de paz. Mesmo em não religiosos, como é meu caso, Jorge Mario Bergoglio desperta uma chama de esperança na construção de um tempo em que a solidariedade possa prevalecer sobre o egoísmo, em que o humanismo se sobreponha ao reacionarismo extremista e ignorante que vem se alastrando como um câncer em metástase pelos continentes. Por isso, as lágrimas desses dias não estão sendo derramadas apenas por vocês, mas por todos os que temos como norte de nossas vidas valores humanistas e civilizatórios. Choramos juntos.
Prezados irmãos, minha admiração nunca é a religiões, as quais respeito mas não me atraem, e, sim, a pessoas que as integram. Reverencio almas enviadas pela espiritualidade para socorrer os seres humanos através das mais diversas denominações, como o protestante Martin Luther King Jr., o hindu Mahatma Gandhi, o espírita Chico Xavier e as católicas irmãs Dulce e Tereza de Calcutá. São espíritos iluminados que vieram nos trazer um pouco de alívio em meio a tanta maldade que nos cerca e atormenta a raça humana.
Jorge Bergoglio foi um desses grandes espíritos de luz que passaram por aqui com a missão de mostrar que cuidar dos pobres, dos refugiados, dos desvalidos é a mais pura e legítima aplicação do Evangelho do Cristo. “Como eu gostaria de uma Igreja pobre, para os pobres”, afirmou o papa.
Do muito que assisti e li nessa segunda-feira triste, dois fatos me chamaram a atenção. Do arquivo da revista Piauí, encontrei a reportagem “O esmoleiro do Vaticano”, sobre o trabalho cardeal polonês Konrad Krajewski como esmoleiro-oficial, cargo milenar do qual eram encarregados religiosos em fim de carreira e que ganhou destaque sob a gestão de Francisco. Através da Esmolaria Apostólica, o papa socorre os necessitados. Inclusive, Francisco recomendou a Konrad que fosse atrás dos pobres em vez de esperá-los. A pasta distribui recursos financeiros a quem precisa, abriga imigrantes e até instalou sanitários com chuveiros para moradores de rua na Praça de São Pedro.
Outro fato mostra que a preocupação de Francisco não era apenas em socorrer as emergentes necessidades dos depauperados, mas também agir para mudar a relação do mundo com o dinheiro, influenciar os países a se tornarem mais inclusivos e também sustentáveis. Para isso criou o que no Brasil se chama de Economia de Francisco e Clara. A missão do grupo que reúne economistas e outros profissionais das mais diversas nacionalidades é “abrir caminho para iniciativas concretas que promovam o bem comum e a ecologia integral, desafiando o status quo e promovendo a reflexão e o diálogo em torno das questões econômicas do nosso tempo”, como explica um dos sites do movimento.
O nome não é homenagem ao papa, mas a São Francisco de Assis, como explicou Bergoglio numa mensagem aos integrantes do grupo: “Hoje, uma nova economia inspirada em Francisco de Assis pode e deve tornar-se uma economia de amizade com a terra e uma economia de paz. Trata-se de transformar uma economia que mata numa economia da vida, em todos os seus aspectos”.
Caros irmãos, Francisco, o papa, iniciou um movimento humanista de grandiosidade histórica que marca não só a Igreja Católica, mas toda a humanidade. Nossos agradecimentos à espiritualidade por este apóstolo que nos tocou e aliviou o sofrimento de milhões. Que a semente plantada pelo papa floresça, ganhe o mundo e nos transforme para melhor. Que nos tornemos mais sensíveis à dor alheia, às necessidades do outro; que consigamos acabar com a fome, com as guerras assassinas, garantir saúde e dignidade a todos.
Afinal, como ressaltou Francisco, “cuidar de quem é pobre não é comunismo, é Evangelho”. E o papa foi o líder que mais soube aplicar o legítimo Evangelho do Cristo nestes tempos obscuros, de extremismo, ignorância e individualismo.
Que descanse em paz.
Saudações democráticas,
CT
- Esta coluna passa a ser publicada às terças, quintas e sábados.