Prezados homens e mulheres de boa vontade,
Nestes tempos em que os apologistas do ódio e da ignorância vão estendendo seus tentáculos e capturando mais e mais incautos com um discurso contundente e atrativo — o mesmo que há 100 anos cativou milhões na Alemanha, na Itália, na Espanha e até no Brasil –, assistimos baixas importantes entre os pacificadores. Há alguns dias foi o papa Francisco e agora a maior referência latino-americana na política do bem, o uruguaio Pepe Mujica, e um dos mais importantes médiuns da história, Divaldo Pereira Franco.
Contudo, homens e mulheres de boa vontade, eles partiram para a espiritualidade, mas suas ideias continuarão nos motivando a permanecer firmes no caminho da paz, da democracia e da bondade. Suas ações ficarão como modelo de coerência entre o discurso e a prática.
Divaldo Pereira Franco, grande orador espírita, que tive o prazer de ouvir em Palmas e em dezenas de palestras pelo YouTube, fundou a Mansão do Caminho, em Salvador, que atende diariamente 6 mil pessoas e abriga mais de 3 mil crianças e jovens carentes. Divaldo adotou mais de 600 dessas crianças, que lhe deram mais de 200 netos e bisnetos. O médium, criticado por ter se equivocado em sua manifestação política recentemente, é, sem dúvida, um exemplo de amor e caridade cristãos. Uma coisa não deve se misturar à outra. O posicionamento do líder espírita não anula essa obra social e humanitária magnifíca que ele desenvolveu ao longo de décadas.
Pepe Mujica foi um humanista em outra frente, a política. Ex-guerrilheiro que lutou pela liberdade do povo uruguaio durante a ditadura, presidiu seu país e nele consolidou a democracia. É referência na América Latina e Europa de líder que mantém a coerência entre o que diz e o que faz. Viveu a vida de simplicidade que sempre pregou, com seu fusqueta azul e sua cadelinha de três patas Manuela, numa chácara nos arredores de Montevidéu. Como presidente, recusou suntuosidade, alto salário, Palácio e privilégios. Avesso ao consumismo, afirmou: “Viver para pagar prestações não é viver. Viver significa sonhar, acreditar em algo superior, ter uma paixão”.
Prezados homens e mulheres do bem, Mujica, como Mandela, me cativa pela capacidade de perdoar seus algozes. Como o líder sul-africano, o ex-presidente do Uruguai ficou preso por mais de uma década, grande parte desse tempo em solitária. No entanto, não saiu do cárcere carcomido pelo ódio, mas se tornou o grande pacifista que conhecemos. “A política é a luta pela felicidade de todos”, discursou em uma ocasião. E ainda mantinha um olhar amoroso e esperançoso para o viver: “A vida escapa e se vai minuto a minuto, e vocês não podem ir ao supermercado comprar a vida. Então, lutem para vivê-la, para dar conteúdo a ela”.
Sem personalidades como Divaldo e Mujica, o mundo aparenta um lugar ainda mais humanamente pobre, mais insensível, mais duro. As injustiças figuram como se ganhassem mais força em meio ao eco dos gritos das bestas-feras do extremismo; e a esperança se apresenta mais distante. Mas retomo o ensinamento do humanista uruguaio, sabendo que sua peregrinação por aqui chegava ao fim: “Quando meus braços se forem, haverá milhares de braços substituindo a luta”.
É nesta mensagem, irmãos e irmãs de luta pelo bem, que devemos nos apegar para não deixar que a ignorância, o ódio e o obscurantismo possam nos vencer.
Descansem em paz, mestres Divaldo e Mujica.
Saudações democráticas,
CT