Caros tocantinenses,
Fiquei chocado com a declaração do senador Flávio Bolsonaro à CNN Brasil. Segundo ele, o governo Lula tem que aceitar o que foi imposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, na carta em que taxa em 50% os produtos brasileiros a partir de 1º de agosto. Claro que Flávio faz uma defesa familiar, já que a missiva do sociopata estadunidense tenta obrigar o Brasil a suspender “imediatamente” o processo no STF contra o ex-presidente Jair Bolsonaro. Todo o documento enviado a Lula é uma afronta à soberania nacional, e não há precedentes na história da diplomacia brasileira recente.
Esse episódio serviu, contudo, para desnudar quem são os verdadeiros patriotas e quem finge ser. E, com certeza, a extrema direita liderada pelos Bolsonaro não tem uma só gota de patriotismo. A família sempre usou a política para defender seus interesses e nos últimos anos soube se aproveitar das redes sociais, da rejeição à política e do analfabetismo digital e ideológico reinante para se vender como a maior defensora dos valores do cristianismo e do nacionalismo. Porém, os membros desse clã não têm qualquer moral para ser exemplo em nenhum desses campos. Recomendo a leitura do excelente livro O negócio do Jair: A história proibida do clã Bolsonaro, da jornalista Juliana Dal Piva.
É um absurdo, sob qualquer aspecto, o que Trump fez com o Brasil. Não se trata aqui de posição ideológica, mas, sim, de verdadeira defesa dos interesses nacionais. Ou seja, do mais real e absoluto patriotismo. Qualquer brasileiro que se diz patriota tem a obrigação de se indignar com a afronta à soberania nacional que a carta do presidente estadunidense cometeu. Não é uma agressão à esquerda, ao governo federal isoladamente ou ao STF. É ao Brasil, a seu povo, à sua economia.
Não há que ser relativizado. Quem procura canalizar esse ataque de acordo com a sua perspectiva ideológica e focá-la num só ente ou pessoa, não tem o mínimo de patriotismo. Pensem se fosse o contrário, se os presidentes Lula, Putin ou Xi Jinping tivessem enviado essa missiva a Trump. Como seria a reação? Como o povo estadunidense receberia uma carta determinando à sua Suprema Corte que interrompesse processo contra uma figura do país? Ainda mais com uma “ordem”: “imediatamente”.
Alguém que se diz patriota não tem o direito de tentar tirar proveito de uma medida que ataca sem piedade a economia nacional, ameaça fechar empresas e desempregar milhões de pessoas, ainda que existam profundas divergências político-ideológicas com quem está, transitoriamente, no governo. Governo passa e o país sobrevive a ele com todas as consequências. Afinal, para quem realmente é patriota, os interesses do país devem sempre — sem nenhuma exceção — estar acima de tudo — de verdade, não no slogan. Para essa gente vira-lata, não. Seu falso nacionalismo é apenas um instrumento para manipular e conquistar votos.
É preciso ressaltar que esses falsos patriotas abusam do analfabetismo político e digital reinante neste país, e que não é obra do acaso, mas projeto. Me faz lembrar da grande resposta do saudoso Leonel Brizola a Fernando Henrique Cardoso num debate eleitoral no anos 1990: “A educação não é cara. Cara é a ignorância“.
Saudações democráticas,
CT