A prefeita de Palmas, Cinthia Ribeiro (PSDB), conquistou os 19 vereadores neste processo de eleição da mesa diretora da Câmara. Habilidosa e afável, soube acomodar interesses diversos, sem deixar mágoas ou feridos. Essa boa relação inicial é apenas uma sinalização dos bons frutos que a harmonia entre os Poderes Legislativo e Executivo pode gerar. Contudo, parlamentares com quem a coluna conversou querem que Cinthia dê um passo maior e faça uma escolha: ou aprofunda esse relacionamento e garante a governabilidade de que precisa para administrar, ou sobe na garupa das “pedaladas” fiscais de seu antecessor e aliado Carlos Amastha (PSB).
O ex-prefeito apresentou relatório que garantia que sua gestão tinha fechado 2017 com saldo positivo de R$ 52,8 milhões, mas eis que o Relatório de Avaliação de Receitas e Despesas, publicado no Diário Oficial do Município do 23 de maio, mostra um déficit no primeiro quadrimestre de 2018 de R$ 35,7 milhões.
[bs-quote quote=”Cinthia tem um desafio hercúleo à sua frente, mas já mostrou um enorme talento para enfrentá-lo com sabedoria e bom senso, para dar fim à era da gestão showbusiness e implantar um governo de seriedade, sobriedade e transparência” style=”default” align=”right” author_name=”CLEBER TOLEDO” author_job=”É jornalista e editor do CT” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2018/02/CTAdemir60.jpg”][/bs-quote]
O que ocorreu de dezembro para cá que fez com que as contas públicas do município saíssem do azul e afundassem no vermelho? Os vereadores que faziam oposição a Amastha nem pestanejam para diagnosticar: o ex-prefeito “pedalou” à la Dilma Rousseff (PT). Para Lúcio Campelo (PR), o antecessor de Cinthia Ribeiro “maquiou” as contas do município com a chamada contabilidade criativa. Ou seja, cancelou empenhos no final do ano para mostrar que fechou 2017 superavitário, reconheceu dívidas no início de 2018 e as pagou com o orçamento que deveria ser gasto por sua sucessora.
Como resultado, a Prefeitura de Palmas não paga fornecedores há meses, e, como disse Milton Neris (Progressistas) ao CT, Cinthia tem que, com menos dinheiro, honrar as despesas do mês e também as que ficaram do ano passado, porque nem todas foram liquidadas. Amastha chegou a culpar a Câmara, porque atrasou a aprovação do orçamento. Neris não se convenceu. Ele lembrou que o ex-prefeito usava o um doze avos sobre o orçamento de 2017 enquanto a peça de 2018 não era aprovada. Assim, avisou o progressista, a “desculpite” não cola.
O pior é que Cinthia foi pega de surpresa quando assumiu o governo da Capital em definitivo, com a renúncia de Amastha no dia 3 de abril. Uma fonte do Paço lamentou à coluna o fato de a prefeita ainda se dar “todo dia com uma surpresa”. Exemplo: descobriu-se que a gestão Amastha locou veículos com recursos das multas de trânsito. Semana passada, o Tribunal de Contas do Estado mandou recolher todos os carros porque essa verba só pode ser usada no trânsito. Com isso, alguns setores estão literalmente a pé.
Para não falar também do problema criado com os investimentos de risco do PreviPalmas de R$ 50 milhões, que, além do prejuízo aos servidores, deixou o município sem o Certificado de Regularização Previdenciária (CRP), conseguido esses dias por liminar.
Por isso, os vereadores, totalmente simpáticos e solidários a Cinthia, vão aguardar os próximos passos da prefeita. Ela pode fingir que está tudo normal, absorver o impacto e pagar o ônus. As comparações de governo começam a aparecer aqui e ali. O outro fazia tudo e esta deixa a desejar, já dizem alguns, injustamente, sem saber o tamanho do abacaxi herdado.
Porém, se Cinthia optar pela garupa das “pedaladas” de Amastha, dentro de um ano não poderá justificar um possível insucesso de seu governo apontando o dedo para seu antecessor. Será tarde demais. Essa via dificultará tremendamente a superação da crise que jogaram em seu colo e levará grande risco a seu futuro político.
A outra opção é a pavimentação de uma nova estrada, sem o radicalismo insano do “nós e eles” que prevaleceu na gestão de Palmas até abril, para tirar a Capital do isolamento político dos último cincos, estabelecendo parcerias com governo do Estado, Assembleia Legislativa e bancada federal.
É essa harmonia de relacionamentos que deve marcar a boa política – não a patética e fictícia “nova” ou “velha”, mas a boa -, e que resultará na superação das dificuldades e no desenvolvimento da nossa Capital.
Cinthia tem um desafio hercúleo à sua frente, mas já mostrou um enorme talento para enfrentá-lo com sabedoria e bom senso, para dar fim à era da “gestão showbusiness” e implantar um governo de seriedade, sobriedade e transparência, o que as “pedaladas” revelam que faltou nos últimos cinco anos.
Claro, a escolha só cabe a ela.
CT, Palmas, 29 de junho de 2018.