Cara deputada Janad Valcari,
Chamou-me a atenção sua postura no período de afastamento do prefeito de Palmas, Eduardo Siqueira Campos. Quando houve a prisão dele, muitos apostaram que você viria a público para tirar proveito da situação, uma vez que foi a principal adversária de Eduardo na renhida disputa eleitoral do ano passado. Qual não foi a surpresa de uns (ou melhor, a decepção) de ver que a deputada preferiu manter a postura de não aprofundar a dor da família, do prefeito e da cidade. Se tivesse usado do oportunismo que vimos imperar no curto período poderia ter contribuído para o agravamento da situação de instabilidade que já havia sido estabelecida pelo lamentável episódio.
É preciso reconhecer a conduta madura, democrática e civilizada que você teve, e que não tiveram muitos dos que estavam na dura peregrinação que Eduardo fez no ano passado. A busca pelo poder a qualquer custo e nas mínimas oportunidades revela, como já escrevi, a pequenez de homens e mulheres. Nessas horas desnudam todo o seu despreparo para a vida pública, mas, como são guiados pelo instinto e não pelo cérebro e pelo senso ético e moral, cometem erros fatais.
Foi o caso. Vimos em cerca de 20 dias máscaras caírem muito facilmente e os que até surgiam como boas promessas para renovar a vida pública do Tocantins mostrarem traços obscuros e uma incapacidade de se portar à altura do que o momento exigia. Ao se deixarem ser sugados pela ambição rasa, fizeram a leitura equivocada do cenário, enfiaram os pés pelas mãos e comprometeram a possibilidade de voos mais altos na política local e estadual. Saíram da crise com a pior pecha que pode grudar numa pessoa, sobretudo na política, a de traidores.
Outros, mais experientes, deputada, também agiram da mesma forma. Não resistiram à tentação de ver a porta da casa entreaberta, o dono distante e já quiseram assaltar a residência. Como bem nos ensinou nosso gigante Machado de Assis, no seu monumental “Esaú e Jacó”: “Não é a ocasião que faz o ladrão; o provérbio está errado. A forma exata deve ser esta: ‘A ocasião faz o furto; o ladrão nasce feito'”. A frase, metaforicamente, é perfeita para esse comportamento que assistimos, perplexos, por parte de alguns.
Você, ao contrário do que muitos pensaram, não embarcou no oportunismo fácil dos moralmente minúsculos e soube aguardar que o tempo e a Justiça escrevessem o capítulo que fechou essa história, com a volta do prefeito Eduardo ao cargo do qual sequer deveria ter sido tirado.
Saudações democráticas,
CT