A coluna já afirmou algumas vezes aqui que, com estas oposições, o governador Mauro Carlesse (PHS) pode ir pescar no Araguaia. Melhor ainda: que fique no Palácio Araguaia já preparando a nova gestão, porque os próximos quatro anos do Estado não serão para principiantes.
Falando neles, os principiantes, em todos os anos de jornalismo político, nunca tinha visto uma oposição tão amadora como nestas eleições. Começa nos erros básicos e crassos nas composições das chapas, em que garantiram legenda para os integrantes da “velha política” disputarem o Senado, sem levar nada em troca, a não ser um profundo desgaste. A acrobacia estapafúrdia mais recente foi esta impugnação de autoria das coligações “A Verdadeira Mudança” e “Renova Tocantins”, do candidato a governador Carlos Amastha (PSB), contra a coligação “Frente Alternativa”, de Márlon Reis (Rede), por causa da aliança com PCdoB e PTB. Com todo o respeito, mas duas legendas que não são ninguém na fila do pão. Os diversos articuladores políticos com quem a coluna conversou nesse domingo, 9, estão impressionados com o modelo amasthiano de fazer política. O fígado, e não o cérebro, é o órgão mais utilizado.
[bs-quote quote=”Amastha não adiciona nada à sua campanha com essa briga e cria um quase intransponível obstáculo para ganhar musculatura depois do dia 7 de outubro, no caso de segundo turno. É algo parecido com o que fez lá atrás chamando a maioria dos políticos do Tocantins de ‘vagabunda'” style=”default” align=”right” author_name=”CLEBER TOLEDO” author_job=”É jornalista e editor do CT” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2018/02/CTAdemir60.jpg”][/bs-quote]
Com essas estripulias figadal do candidato a governador do PSB, a possibilidade de um segundo vai se esvaindo cada vez mais no horizonte. Contudo, se por um acaso ela se configurar, é muito mais provável que Amastha, e não Márlon, seja o classificado para a reta final da disputa com Carlesse. Então vem a pergunta: por que cargas d’água vai arrumar essa briga monumental e desnecessária com um vizinho que pode ser seu aliado depois do dia 7 de outubro?
Se o PCdoB e o PTB fizeram isso ou aquilo, deixaram o grupo do ex-prefeito de Palmas e foram se aventurar com Márlon, Amastha ficou com MDB, PR e PSDB. Qual o significado de PCdoB e PTB neste contexto? De novo, com todo o respeito. O candidato do PSB derrubou o beiço porque Zé Geraldo e Nésio Fernandes ousaram tirar a cangalha e mostraram que têm liberdade de escolha? Racionalmente, não dá para entender.
Então, parte-se para uma vindita de caráter pessoal, sem se levar em consideração as possibilidades colocadas no tabuleiro de um reencontro dentro de pouco tempo, simplesmente por uma questão de ego e fígado?
Como sempre me ensina o amigo e grande advogado Leandro Manzano, um ato jurídico gera um fato político no processo eleitoral. Assim, a ação provocou uma reação à altura do candidato Márlon Reis, que não poupou adjetivos na sua contestação ao TRE-TO. Primeiro disse que a coligação de Amastha agiu de má-fé. Depois transitou pelo campo da ironia, lembrando da ópera-bufa “desiste-e-desiste-de-desistir”, que, para o candidato da Rede, não passou de “pura encenação”: “Digna da interpretação de um grande ator”, arrematou.
Nas estratégias eleitorais, do qual o Direito é só mais uma peça, Amastha tinha que ter deixado qualquer ação contra a saída de PCdoB e PTB para o Ministério Público Eleitoral. Essa batalha é totalmente diferente daquela que ele travou na eleição suplementar para segurar o PT. Naquela ocasião, o ex-prefeito de Palmas estava com um tempo irrisório de TV. Assim, a briga dos petistas com a senadora Kátia Abreu (PDT) caiu do céu e foi parar no colo dele. Estrategicamente poderíamos chamar de um ato político-jurídico perfeito.
Agora, não. Amastha não adiciona nada à sua campanha com essa briga e cria um quase intransponível obstáculo para ganhar musculatura depois do dia 7 de outubro, no caso de segundo turno. É algo parecido com o que fez lá atrás chamando a maioria dos políticos do Tocantins de “vagabunda”, e que sentiu reverberando só neste período eleitoral, quando foi rejeitado por quase todos os líderes tradicionais e ainda teve que tomar “chá de esculacho” do prefeito de Paraíso, Moisés Avelino (MDB).
Esse ato impensado que ganhou o debate público no segundo semestre do ano passado, dividindo os líderes entre “velha” e “nova” política, foi fundamental para tornar a campanha do pessebebista apática neste momento, como todos são testemunha. O deslize se repete com essa ação contra PCdoB e PTB, entre vários outros do mesmo nível desde os “vagabundos”, porque está se fazendo política com o fígado, impulsionado pelo ego.
Não é por outro motivo que o presidente regional do PCdoB, Nésio Fernandes, sabiamente, lembrou em sua nota sobre a impugnação o que deveria ser óbvio: as divergências das oposições são motivo de festa para o Palácio Araguaia.
CT, Palmas, 10 de setembro de 2018.