O ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gustavo Bebianno, afirmou o programa Pingos nos Is da rádio Jovem Pan que foi demitido pelo vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), filho do presidente Jair Bolsonaro. “Eu fui demitido pelo Carlos Bolsonaro”. Segundo ele, Carlos ”inflamou a cabeça do pai”. Na entrevista, Bebianno criticou a postura de Carlos ao longo da campanha eleitoral de 2018 e disse que sua influência sobre o presidente é nociva para o governo.
Para o ex-ministro, Carlos “tem um nível de agressividade acima do normal”. Ele afirmou que o filho do presidente atacou verbalmente integrantes do PSL no Rio de Janeiro, onde seria conhecido como “destruidor de reputações”. Ao comentar as especulações de que poderia exercer o papel de “homem-bomba” contra o governo, no entanto, Bebianno negou qualquer intenção de se tornar pivô de escândalos. “Não vou atacar o nosso presidente em absolutamente nada.”
Áudios divulgados nessa terça-feira, 19, mostram que Jair Bolsonaro trocou mensagens de voz pelo WhatsApp com o então ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gustavo Bebianno, em 12 de fevereiro, durante sua internação no Hospital Albert Einstein, em São Paulo.
Os áudios foram revelados pela revista Veja e desmentem o segundo filho do mandatário, Carlos Bolsonaro, que abrira uma crise no governo ao afirmar publicamente que Bebianno não havia falado com seu pai naquele dia.
Na primeira mensagem de voz enviada por Bolsonaro em 12 de fevereiro, ele critica o ex-ministro por ter agendado uma reunião com um representante do Grupo Globo no Palácio do Planalto e chama a emissora de “inimiga”.
“Gustavo, o que eu acho desse cara da Globo dentro do Palácio do Planalto: eu não quero ele aí dentro. Qual a mensagem que vai dar para as outras emissoras? Que nós estamos se aproximando da Globo. Então não dá para ter esse tipo de relacionamento. Agora… Inimigo passivo, sim. Agora… Trazer o inimigo para dentro de casa é outra história. Pô, você tem que ter essa visão, pelo amor de Deus, cara. Fica complicado a gente ter um relacionamento legal dessa forma porque você tá trazendo o maior cara que me ferrou – antes, durante, agora e após a campanha – para dentro de casa. Me desculpa. Como presidente da República: cancela, não quero esse cara aí dentro, ponto final. Um abraço aí.”
No segundo e no terceiro áudios, Bolsonaro questiona uma viagem de Bebianno para a Amazônia com os ministros Ricardo Salles (Meio Ambiente) e Damares Alves (Direitos Humanos). “Gustavo, uma pergunta: ‘Jair Bolsonaro decidiu enviar para a Amazônia?’ Não tô entendendo. Quem tá patrocinando essa ida para a Amazônia? Quem tá sendo o cabeça dessa viagem à Amazônia? Um abraço aí, Gustavo, até mais.”
“Ô, Bebianno. Essa missão não vai ser realizada. Conversei com o Ricardo Salles. Ele tava chateado que tinha muita coisa para fazer e está entendendo como missão minha. Conversei com a Damares. A mesma coisa. Agora: eu não quero que vocês viajem porque… Vocês criam a expectativa de uma obra. Daí vai ficar o povo todo me cobrando. Isso pode ser feito quando nós acharmos que vai ter recurso, o orçamento é nosso, vai ser aprovado, etc. Então essa viagem não se realizará, tá ok? Um abraço aí, Gustavo!”
Laranjas
Nos dias seguintes, a Veja diz que Bolsonaro enviou áudios sobre a notícia da Folha de S.Paulo de que o PSL, partido do presidente, teria usado candidatos “laranjas” para desviar recursos do fundo eleitoral. A legenda foi presidida nas eleições por Bebianno.
“Querer empurrar essa batata quente desse dinheiro lá pra candidata em Pernambuco pro meu colo, aí não vai dar certo. Aí é desonestidade e falta de caráter. Agora, todas as notas pregadas nesse sentido foram nesse sentido exatamente, então a Polícia Federal vai entrar no circuito, já entrou no circuito, para apurar a verdade. Tudo bem, vamos ver daí… Quem deve paga, tá certo? Eu sei que você é dessa linha minha aí. Um abraço.”
Ao ser acusado de vazar para a imprensa que havia tentado falar com o presidente, Bebianno diz que Bolsonaro está “bem envenenado” e reclama dos ataques públicos feitos por Carlos. A demissão do ministro da Secretaria-Geral da Presidência é a maior crise deste início de mandato do capitão reformado, e os áudios chegam ao público no dia seguinte ao anúncio da exoneração. (Com informações do Estadão e Agência Ansa)