A Organização Mundial da Saúde (OMS) diz que o uso das cadeirinhas nos bancos traseiros dos carros reduz em até 60% a morte de crianças em acidentes de trânsito. Em 2017, cerca de 35 mil brasileiros morreram nas ruas e estradas – a maior parte deles homens e de idades entre 20 e 39 anos. As estatísticas deixam claro que não há o mínimo espaço para qualquer tipo de flexibilização do Código Brasileiro de Trânsito. Mas o que é a estatística em tempos terraplanistas, de questionamento do aquecimento global e defesa intransigente do “marxismo cultural”?
[bs-quote quote=”O retrocesso na política de segurança de trânsito com essas medidas do governo federal é de uma irresponsabilidade sem tamanho. Elas simplesmente ignoram as estatísticas, os alertas dos especialista e parecem ter o objetivo de atender os instintos primitivos do presidente da República” style=”default” align=”right” author_name=”CLEBER TOLEDO” author_job=”É jornalista e editor do CT” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2018/02/CTAdemir60.jpg”][/bs-quote]
O motorista brasileiro procura se manter na linha para evitar a suspensão da Carteira Nacional de Habilitação (CNH) justamente porque a pena pode vir com poucos pontos — com 21, já era. Então, o presidente Jair Bolsonaro, que, com os filhos e a esposa, somaram nos últimos cinco anos 44 multas de trânsito, resolve elevar a pontuação aceitável de 20 para 40. Ainda tem o descaramento de dizer que, se dependesse dele, elevaria para 60 pontos. Tudo bem, vamos entender, a família é habitual infratora das leis de trânsito.
Se há algo que faz o motorista reduzir a velocidade são os radares. Só olhar as marcas de freadas próximas a eles para fazer essa constatação. Mas então o presidente da República cancela a instalação de 8 mil radares em rodovias federais.
O retrocesso na política de segurança de trânsito com essas medidas do governo federal é de uma irresponsabilidade sem tamanho. Elas simplesmente ignoram as estatísticas, os alertas dos especialista e parecem ter o objetivo de atender os instintos primitivos do presidente da República, cuja mentalidade remonta à idade das trevas.
O diretor-presidente do Observatório Nacional de Segurança Viária, José Aurelio Ramalho, disse ao jornal O Estado de S.Paulo que o aumento do limite de pontuação, por exemplo, só beneficiará 5% da população, os chamados “infratores contumazes”, aqueles que mais tomam multa, como é o caso de Bolsonaro e sua família. Ou seja, uma medida que dá a impressão de atender o próprio interesse.
O membro da Comissão de Trânsito da Ordem dos Advogados do Brasil seção São Paulo (OAB-SP) Maurício Januzzi avisou também ao Estadão que, com as mudanças anunciadas pelo governo, as pessoas vão afrouxar a segurança e o número de infrações vão aumentar.
Como os petistas, que avalizavam tudo o que o seu “mito” Luiz Inácio Lula da Silva fazia, os bolsonaristas se comportam da mesma forma, e aplaudem acefalamente qualquer medida tresloucada que seu presidente produz. Nos seus extremos, eles são iguaizinhos. Saímos do governo da cleptocracia para voltar à Idade Média. Qual é o pior? Sinceramente, não sei responder, ainda que tenha muita esperança no sucesso da equipe econômica do atual governo, capitaneada pelo competentíssimo ministro Paulo Guedes.
O que sei é que não vou abrir mão de pensar para aderir aos ladrões ou aos loucos e que não estou disposto a tocar tambor para maluco dançar.
Segue meu mantra: pena que do outro lado estava o PT!
CT, Palmas, 6 de junho de 2019.