Com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva solto desde sexta-feira, 8, e conforme ficou evidente nos dois discursos inflamados que fez nos atos em Curitiba (PA) e São Bernardo do Campo (SP), o radicalismo deve se exacerbar nos próximos meses. É um complicador a mais num cenário em que os radicais de direita já vinham se digladiando, e jogando muita instabilidade política no Brasil. Se o ambiente de negócios e para a aprovação de medidas duras mas necessárias não era muito bom só com os bolsonaristas em plena antropofagia, imagine quais as perspectivas de dois grupos absurdamente radicais se pegando em praças públicas, virtuais ou não.
Sob as bençãos do jogo de conveniência do Supremo Tribunal Federal (STF), que tomou uma decisão política, não jurídica, o clima no Brasil ficará cada vez mais tenso. E os dois protagonistas desse MMA político — Lula e o presidente Jair Bolsonaro — têm muito interesse em que isso ocorra por motivos diferentes.
[bs-quote quote=”A ala moderada do País, de centro-esquerda e centro-direita, tenta encontrar um discurso que se faça ouvido pela população. Não será fácil, uma vez que nossos instintos latinos tendem à emoção, não à razão” style=”default” align=”right” author_name=”CLEBER TOLEDO” author_job=”É jornalista e editor da Coluna do CT” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2019/09/CT-trabalhado-180.jpeg”][/bs-quote]
Lula precisa consolidar a falsa história de que foi um preso político, “esquecendo-se” de ter sido condenado não por um juiz, mas por mais de uma dezena deles, passando pela primeira, segunda e terceira instâncias. No discurso de sexta-feira, ainda em Curitiba, reverberava uma falaciosa “inocência” e “honestidade” na qual só acreditam seus apaixonados cegos e aqueles que sustentam a tese de que a ideologia deve estar acima da moralidade.
Dessa forma, o ex-presidente precisa soltar uma enorme cortina de fumaça para esconder o fato de que é um condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. O Lula que se viu nos dois atos não é, e nem poderia ser, o “Lulinha paz e amor” criado em 2001 pelo marqueteiro Duda Mendonça. Foi essa figura light, depois dos discursos rancorosos de 1989, 1994 e 1998, que permitiu que a elite indicasse o vice para dar sua benção ao PT em 2002, com o mega empresário José Alencar, e que a classe média, que sempre temeu o operário, votasse em Lula para presidente.
Por isso, num momento em que a esquerda volta a ser demonizada por essa mesma classe média, não faz sentido, do ponto de vista político, a radicalização do discurso de Lula. Ela só é compreensível mesmo como cortina de fumaça para esconder um condenado por corrupção e lavagem de dinheiro, que precisa desse clima de populismo, atacando medidas econômicas modernizadoras, como as que propõe o ministro da Economia, Paulo Guedes; e de radicalismo, ao pedir para que tragam o caos do Chile para o Brasil, para tentar impedir uma nova reviravolta legislativa ou jurídica que o leve de volta para o local de onde não deveria ter saído: a prisão.
No outro extremo do radicalismo, o presidente Jair Bolsonaro também ganha com essa exacerbação do cenário porque, de olho na reeleição em 2022, vê nela a possibilidade de reunificar o grupo de fanáticos que está se esfarelando entre as criações malucas de teorias diversas da conspiração que marcam o bolsonarismo. Além disso, Bolsonaro espera que o recrudescimento desse quadro de loucura política coloque novamente ao seu lado a direita efetivamente liberal, que não aceita o populismo petista, mas também não engole as tendências autoritárias de claros contornos fascistas que têm marcado os discursos do presidente, seus filhos e o núcleo mais próximo deles.
Quem perde com essa luta insana entre os extremos é o Brasil. O clima de radicalismo não só levará a um quinto plano os debates realmente importantes para o País, como as reformas tributária, administrativa e as PECs de transformação do Estado brasileiro apresentadas semana passada por Guedes, como também vai rebaixar a discussão ao nível raso do populismo do esquerda. Como bolsonaro é um nacionalista que se apropriou, por conveniência eleitoral, de uma frase ou outra do liberalismo, se a cortina de fumaça de Lula jogar significativa parte da população contra as reformas, o presidente vai ceder, já que não tem convicção, e o País atrasará mais uns bons anos na retomada do desenvolvimento.
Enquanto isso, a ala moderada do País, de centro-esquerda e centro-direita, tenta encontrar um discurso que se faça ouvido pela população. Não será fácil, uma vez que nossos instintos latinos tendem à emoção, não à razão. Assim, o radicalismo sempre terá mais chance de germinar do que o bom senso.
Mas nunca foi tão necessário um entendimento desse grupo da ponderação para salvar o Brasil desse fanatismo cego, surdo e louco, com o potencial de nos destruir como nação.
CT, Palmas, 11 de novembro de 2019.