O Tocantins começa a entrar num período muito duro de sua árdua luta contra a Covid-19. Devemos ter as próximas semanas como as mais escuras e tristes de nossa história, já que a situação do novo coronavírus se agrava. Agora não são só os casos do novos coronavírus que explodem, mas também o número de mortos. Homens e mulheres que poderiam ter muitos anos mais de vida pela frente, mas que, precocemente, estão sendo retirados de seus familiares, sem que tenha sequer direito a uma despedida e homenagem à altura.
Vejam só os números de irmãos, irmãs, filhos, filhas, pais, mães, avós e avôs que nos deixaram desde sábado, 9 — nada menos do que 11 tocantinenses:
Sábado, 9.5
1.Gurupi, homem, 56 anos
2.Paraíso, homem, 57 anos
Domingo, 10.5
3.Axixá, mulher, 43 anos
Segunda-feira, 11.5
4.Guaraí, mulher, 87 anos
5.Araguatins, homem, 62 anos
Terça-feira, 12.5
6.São Miguel, mulher, 73 anos
7.Araguaína, homem, 79 anos
8.Araguaína, homem, 83 anos
9.Palmas, homem, 52 anos
10.Araguaína, homem, 84 anos
11.Tocantinópolis, homem, 59 anos
[bs-quote quote=”À Câmara, esperamos que, a despeito daqueles que veem na igreja unicamente um campo para cabalar votos, que ignore e jogue no arquivo esses projetos inoportunos, oportunistas e que representam um risco à sociedade” style=”default” align=”right” author_name=”CLEBER TOLEDO” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2019/09/CT-trabalhado-180.jpeg”][/bs-quote]
Duas mortes por Covid-19 no sábado, 1 no domingo, 2 na segunda e 6 (!!) nessa terça!
Diante desse cenário de tanta dor, de verdade, há condições para se falar em reabrir igreja, promovendo aglomerações e colocando em risco a vida das pessoas? De fato, quem propõe reabrir igreja, nessas condições, conhece Jesus? Tem, realmente, seus ensinamentos no coração? Não acredito. O que sai da boca dessa gente não é o que está no coração dela. A preocupação é a mesma das empresas: faturamento.
Ou esses líderes religiosos que defendem a reabertura das igrejas — que acredito que sejam uma minoria — vão fazer como os “bolsominions” e dizer que “são tudo velho e iam morrer de qualquer jeito”?
A coluna já explicou que ninguém está querendo retirar o direito constitucional de professar a fé, seja ela qual for, e ao culto. No entanto, vivemos um momento de excepcionalidade que exige, em nome da vida — numa perspectiva teológica, o maior bem que Deus concedeu ao homem —, que evitemos a aglomeração de pessoas. Não há medida de segurança que as igrejas adotem que dão a garantia de que não teremos a disseminação da Covid-19 nessas atividades religiosas.
As igrejas hoje dispõem de plataformas tecnológicas que lhes permitem realizar seus cultos sem a necessidade da presença física. Os dízimos podem ser transferidos das contas por uma tecla de computador ou mesmo celular.
No entanto, a insistência em desrespeitar os decretos municipais, passar sobre a sociedade e colocar em risco a vida de todos é de um absurdo inominável, sobretudo para quem deveria dar um bom testemunho como cristão e cidadão. Já foram alertados pelos órgãos de controle, numa oportuna recomendação dos Ministérios Públicos Estadual, Federal e do Trabalho. Não bastou. Várias igrejas em bairros afastados continuam desrespeitando e realizando seus cultos.
Noutra frente, agora agem, sorrateiramente, para derrubar a proibição usando de vereadores para aprovar leis que tornem essencial a atividade religiosa e, com isso, driblar o decreto.
Como afirmei nas redes sociais, se sou fiel de igreja em que o líder insiste tanto em retomar os cultos em meio a uma pandemia que já matou tanta gente — só no Estado, 11 pessoas em 4 dias -, eu deixaria de frequentá-la. É prova de que esse líder não dá o mínimo valor à vida humana. Repito: o que sai da boca dele não é o que está no coração.
Padres, pastores e qualquer outro líder espiritual devem proteger suas ovelhas neste quadro em que a situação se torna mais grave, em que a morte joga sua sombra sobre o Estado. Passaremos por profundas dores nas próximas semanas, e pensar em como confortar os familiares de vítimas dessa doença é o que deveria ocupar os religiosos neste momento, ao invés de montar conchavos com vereadores para burlar decretos e a própria sociedade.
Quem se dedica a essas conspirações contra a vida humana não é digno sequer de pronunciar o nome de Jesus. E reforço mais uma vez: não tenho a menor dúvida de que se trata de uma minoria, porque a maioria mais do que absoluta tem mostrado preocupação e agindo para proteger seu rebanho.
Às autoridades, é preciso intensificar as fiscalizações e agir com rigor contra os que insistem em desrespeitar os decretos. Não se pode negociar com quem infringe as regras que visam salvar vidas. Se se comportam como maus cidadãos, como tal precisam ser tratados, sejam eles quem forem.
À Câmara, esperamos que, a despeito daqueles que veem na igreja unicamente um campo para cabalar votos, que ignore e jogue no arquivo (ou no lixo) esses projetos inoportunos, eleitoreiros e que representam um risco à sociedade.
Afinal, não podemos permitir que a conjuração de lobos em peles de cordeiros com as hienas sabote toda a luta da sociedade contra o avanço da Covid-19.
Em nome dos 21 irmãos e irmãs tocantinenses que já perdemos para o novo coronavírus e de tantos outros que infelizmente nos deixarão, reagir a essa tramoia indecente é nossa obrigação.
CT, Palmas, 13 de maio de 2020.