A estimativa populacional do Tocantins, conforme os números do IBGE divulgados nessa quinta-feira, 27, mostra que o crescimento do Estado está muito escorado em sua capital. Segundo o instituto, houve um acréscimo de 17.382 pessoas no Tocantins de 2019 para 2020 — de 1.572.866 para 1.590.248, uma alta de 1,11% em 12 meses.
Das 17.382 que vieram ou nasceram no Estado nesse período, 7.169 estão em Palmas. Ou seja, a Capital respondeu por 41,2% do crescimento populacional do Tocantins. As outras quatro maiores cidades — Araguaína (com acréscimo de 2.911 moradores), Gurupi (com 898), Porto (com 351) e Paraíso (com 639) — tiveram, juntas, um expansão de apenas 4.799 pessoas, ou 27,6% dos novos tocantinenses.
Considerando seus 16 municípios, entre eles Porto, Paraíso, Miracema e Miranorte, a região metropolitana de Palmas, que congrega uma população de 492.945 pessoas, representa 31% dos tocantinenses.
Palmas foi a segunda capital em taxa de crescimento de 2019 para 2020, com 2,4%, atrás somente de Boa Vista (RR), com 5,12%, de acordo com os dados do IBGE. Uma cidade de apenas 31 anos, bem localizada e bem estruturada, que consegue se manter acima da média nacional desde sua criação. É vista como uma terra de esperança, de oportunidade e de futuro, claro, com o que todos nós concordamos.
No entanto, não dá para o Tocantins viver da fama de sua capital. O Estado entrou numa crise profunda há 16 anos, em função das disputas fratricidas de seus grupos políticos, que custaram uma crise fiscal absurda e a total falta de liquidez para os investimentos mais básicos. Além disso, foi tragado pela crise nacional a partir de 2014, ainda que alguns dos seus principais municípios tenham entrado num ciclo de boas gestões a partir de 2013, caso de Palmas, Araguaína, Gurupi e Paraíso.
Quando uma gestão estadual cria coragem de fazer ajustes mais profundos para devolver ao Estado a capacidade de investir, somos surpreendidos por uma crise sanitária de dimensões mundiais, que, com certeza, vai atrasar muito mais a retomada do nosso desenvolvimento.
A despeito de tudo isso, o Tocantins ainda ressente de políticas mais ousadas de desenvolvimento. Alguns setores vistos como estratégicos por todo o mundo, aqui patinam. Exemplo claro do turismo. O Estado foi privilegiado por sua natureza e poderia arrecadar milhões a mais se acreditasse de verdade no potencial de seus atrativos. Para isso, precisa de planejamento e investimento nos municípios. Estruturar sua rede hoteleira e restaurantes, treinar a população e dotar as estradas de condições impecáveis. Tudo para que a experiência do turista no Estado seja a mais agradável possível.
Ainda precisamos deixar de ser um grande corredor de passagem de matéria-prima e passar s industrializar os produtos por aqui.
Para tudo isso, o fundamental é a profissionalização da gestão pública. A boa notícia é demos importantes passos nesse campo. A despeito de paixões e ódios partidários da política pequena, é só ver a transformação de Palmas, Araguaína e Gurupi, por exemplo, nos últimos anos. Claro que há falhas, e sempre haverá o que melhorar, e está aí agora o melhor momento para que as comunidades façam os debates necessários, as eleições.
No Estado, onde a complexidade é muito maior porque o desgaste da máquina era muito profundo após anos de abusos de políticas eleitoreiras, também houve avanço. Desde 2011 que venho pregando no deserto a necessidade de um acerto de contas. A insanidade das batalhas político-judiciais levou o Tocantins para um atoleiro de dívidas impagáveis com servidores, porque benefícios foram concedidos ao sabor das eleições e não conforme a evolução da receita; de aumento do seu endividamento com empréstimos e outros gastos que não passaram nem perto de um planejamento mínimo.
No entanto, mesmo que abaixo do que poderia, o Estado veio crescendo, bem como a demanda por serviços públicos, que, ao invés de melhorarem e se ampliarem, se deterioram ao longo dos anos pela completa falência financeira da máquina pública. Por isso, comemorei a decisão acertadíssima do governador Mauro Carlesse (DEM) de ter tomado as medidas de ajuste a partir do final das eleições de 2018. Lamentavelmente veio a Covid-19 e houve um óbvio retrocesso nesse esforço, mas é fundamental que, passada essa crise sanitária, o Estado persista nessa política de austeridade, que ainda vai demandar muitos anos de sacrifício da população.
Daí a importância de o eleitor aprender que o melhor gestor não é o que promete mundos e fundos, mas o que demonstra que, em primeiro lugar, terá responsabilidade na condução da coisa pública. É com base nesse compromisso com a austeridade que o Tocantins e seus municípios poderão voltar a crescer sem se escorar apenas numa cidade como ocorre hoje.
Palmas, 28 de agosto de 2020.