Estimados leitores e leitoras! Tudo bem com vocês? Nosso país é uma maravilha, não acham? Com todos os problemas que existem por aí, tradicionalmente, o ano só começa depois do carnaval. O período de férias das crianças, as festas de Natal e ano novo, recessos, o verão, as praias e outros fatores fazem com que janeiro se transforme em um mês ocioso. A palavra procrastinação significa adiamento de uma ação, é aquela mania de deixar tudo para depois. Adiamos o máximo possível algo que poderíamos ter começado antes.
A procrastinação é um comportamento considerado normal ao ser humano, no entanto pode ser muito prejudicial quando começa a impedir o funcionamento de rotinas pessoais ou profissionais. A União, os Estados e os Municípios não fazem nada antes do carnaval, principalmente quando se muda os governantes. O nosso país só funciona 10 meses por ano e olhe lá. O resto é festa, eleição e carnaval. E a segurança, saúde e educação que estão em frangalhos?
[bs-quote quote=”Na Constituição ficou consagrado que todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos diretamente. Vocês acreditam?” style=”default” align=”right” author_name=”TADEU ZERBINI” author_job=”É economista e consultor” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2018/02/TadeuZerbini60.jpg”][/bs-quote]
Você sabe qual o significado dos “pratos” ou “bacias” ou “conchas” que formam a estrutura do Congresso Nacional em Brasília?
O conjunto de construções inclui duas torres de 28 andares ligadas no meio, formando um “H”. Ao lado de uma das torres, há uma cúpula convexa, maior, que representa a Câmara dos Deputados; ao outro lado, há uma cúpula côncava, menor, que abriga a sede do Senado Federal.
A simbologia do projeto de Niemeyer colocou o Congresso como o prédio mais alto da Praça dos Três Poderes, ou seja, a preponderância do poder do povo, por meio de sua representação. As duas conchas simbolizam o poder e a relação de contrapesos implícita no sistema bicameral. A cúpula convexa da Câmara, maior e chapada no alto, sugeriria que aquele plenário está aberto ao impacto direto de ideologias, tendências, anseios e paixões do povo. Já a cúpula côncava do Senado, menor, retrataria um local propício para reflexão, serenidade, ponderação, equilíbrio, onde são valorizados o peso da experiência e o ônus da maturidade.
A Concha da Câmara é virada para cima, pois representa o povo. O poder que vem de baixo para cima – os deputados representam a vontade do povo.
A do Senado é voltada para baixo, pois representa a vontade do Estado. O poder que vem de cima para baixo – os Senadores representam os Estados da Federação.
Vocês acham que a Concha da Câmara representa o povo? Acho que nem o povo sabe. Escolhem seus Deputados por interesses particulares e muitos recebem dinheiro para isto, dinheiro este que vem dos próprios impostos que o povo paga e que forma o fundo partidário que se junta com outros recursos vindos ilicitamente para a campanha. No papel tudo é possível. Na Constituição ficou consagrado que todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos diretamente. Vocês acreditam?
Conversando com um amigo sobre este artigo, ele lembrou que se colocasse um “S” maiúsculo nas duas torres, teríamos o símbolo do cifrão, o que representaria muito melhor a situação do Congresso Nacional. Lá, dinheiro é a prioridade.
Vocês sabiam que o orçamento da união para 2019 prevê R$ 6,3 bilhões para a Câmara dos Deputados e R$ 4,5 bilhões para o Senado? Esses quase R$ 11 bilhões são para pagamento de salários, manutenção, auxílios de outro mundo e muitas outras regalias. Além destes valores, outros R$ 4,6 bilhões são para emendas de bancadas e outros R$ 9,2 bilhões são para emendas individuais dos parlamentares. Dizem que o Congresso Nacional é um pedaço do céu aqui na terra. Eu acredito.
Segundo o TSE, existem 35 Partidos Políticos registrados e outros 73 estão em processo de formação. Para que tudo isto? Além dessa quantidade de Partidos ainda temos os blocos e as bancadas. Interessante que se criam muitos partidos e depois eles se juntam formando blocos. Que tristeza, não é mesmo?
Como existem muitos partidos, os interesses nada republicanos passaram a ser discutidos em bancadas. Bancada da bala, bancada evangélica, bancada do servidor público, bancada dos médicos, bancada ruralista e por aí vai. Os Partidos Políticos no Brasil não servem para mais nada, a não ser para eleger o político por exigência da legislação.
Custou uma fortuna para se fazer o côncavo e o convexo e continua a custar uma fortuna, anualmente, para manter quem está dentro dessas Conchas. Será que é porque se acha pérolas dentro de algumas conchas?
Debaixo das Conchas estão discutindo a reforma da previdência que nunca, mas nunca mesmo, acontecerá da forma como o povo quer. Por isto, acredito que não deveria haver o côncavo e o convexo, mas só o côncavo porque assim ficaria mais bem representada a forma de poder existente no Brasil. De cima para baixo.
Enquanto isto, questões importantes para o país são deixadas de lado. Será que nossos políticos só conseguem fazer uma coisa de cada vez? Será que para cada reforma será necessário negociar cargos e emendas. Nosso Congresso é preguiçoso, lento e devorador de sonhos. Projetos são procrastinados diariamente e o povo continua sofrendo as consequências da má gestão dos recursos públicos e da demora para aprovação de reformas importantes. O côncavo e o convexo são opostos, mas opostos a quem? Acho que vocês desconfiam, né?
TADEU ZERBINI
É economista, especialista em Gestão Pública, professor e consultor
ctzl@uol.com.br