Teologicamente, para referir-se à consumação do mundo ainda não realizada, é utilizada a expressão do “já” e “ainda não”. É uma tensão entre o que já começou, deu-se seu início, mas que ainda não terminou, não chegou à sua realização plena. Esta tensão gera esperança para quem crê e ao mesmo tempo indiferença para quem não crê. Paira sobre esta tensão um vestígio de dúvida. Quem crê interroga-se: “será se vai mesmo acontecer?”. Quem não crê também questiona-se: “Será verdade?”.
Em Porto Nacional, de raízes profundamente religiosas, aplicar-se-ia muito bem esta analogia em referência à construção da nova ponte sobre o lago (Rio Tocantins). Inaugurada na década de 1970, a ponte sobre o Rio Tocantins trouxe progresso e esperança para o povo portuense. A celeridade da travessia fez a região ganhar notoriedade e destaque no então norte goiano, deixando para trás a insígnia de “corredor da miséria”. A construção da ponte, nomeada pelo então prefeito Jurimar Pereira de Macedo, de Dom Alano Maria Du Noday, em homenagem ao notável bispo diocesano da época foi, indubitavelmente, um marco na história da cidade de Porto Nacional e do agora Estado do Tocantins.
Passados mais de 40 anos, este símbolo do desenvolvimento da região vive o seu dilema. Por problemas estruturais, já há algum tempo o poder público restringiu o tráfego sobre a ponte, chegando a interditá-la totalmente em 2019, por alguns meses. Tempo este em que os portuenses e todos que por aqui passavam viram retornar a velha e conhecida balsa, rememorando os anos anteriores a 1970.
Desde então, temos visto uma série de movimentações em torno da construção da nova ponte. “Já” foi feita licitação, mas “ainda não” havida começado a obra. Mais recentemente, deu-se início aos trabalhos, mas ainda não sabemos se continuará. Já sabemos, porém, que o tempo previsto para o seu término é de dois anos e meio. Mas ainda não sabemos se de fato será assim. Entre o “já” e o “ainda não” existem as vicissitudes do tempo e da história que insistem em apressar umas coisas e protelar outras insistindo em deixar quem crê na esperança e quem não crê, na dúvida.
PADRE EDISLEY BATISTA
É mestre em Teologia e sacerdote da Diocese de Porto Nacional
edisley.batista22@gmail.com