Caro mestre Tião Pinheiro,
Recebi com muita alegria a informação de que a cultura do Tocantins foi a que registrou o maior índice de execução da Lei Paulo Gustavo — registre-se, criação de um tocantinense, o senador Eduardo Gomes — entre todos os Estados brasileiros, com incríveis 99,1%. Não foi surpresa para mim, conhecedor que sou de sua competência e do profundo amor que alimenta diariamente por essa área tão maltratada num país embrenhado desde sempre no obscurantismo que, lamentavelmente, emergiu nos últimos anos — acredite — com ares de “orgulho nacional”. É isso, mestre, o que até poucas décadas escondiam de todos — a ignorância –, agora é exibido como troféu em praça pública.
Mas nem ela, a ignorância, contava que teríamos um apaixonado pela cultura de sua dimensão à frente da pasta que hesitaram por tantos anos em criar. Por isso, o governo atual acertou duas vezes: ao ter a coragem de implantar a nossa Secretaria de Estado da Cultura e ao escolher você para comandá-la. Não havia nome mais à altura. Além de jornalista referência para todos nós, professor de várias gerações de repórteres e editores — como este simples missivista –, sempre me chamou a atenção sua enorme competência como gestor. Pode parecer até algo trivial para outras profissões, mas na nossa isso é mais raro do que ver cabeça de bacalhau. Foi, inclusive, a maior dificuldade para conduzir minha empresa, que só por mãos divinas chegará intacta aos 20 anos em março.
Caro Tião, para muito além do sucesso pessoal e institucional, esse incrível índice expressa sua indelével contribuição à cultura tocantinense. Os 99,1% significam, na prática, agentes culturais exercitando sua arte sem ter que esmolar para conseguir recursos. Ainda que ciente de que há muito a se avançar, essa constatação me emociona como aprendiz de escritor, alguém que sabe como é complicado financiar a cultura numa sociedade em que, de um lado, há um grupo que vê a arte como supérflua — mesmo quando assiste a um filme para se descontrair e se renergizar após a semana puxada — e, de outro, aqueles cuja única preocupação diária é achar o que comer.
Claro, a arte dá sentido à vida e, por ela, desnudamos e denunciamos as injustiças sociais, conscientizamos e transformamos o mundo à nossa volta. Sabemos disso sem perder de vista — volto a ele — o império das trevas intelectual que nos cerca. Contudo, uma hora essa névoa do obscurantismo vai se dissipar e nossos textos, vídeos, poemas, música, dança e pintura se sobressairão, jogando luz em todos os cantos emporcalhados pela ignorância. Então, um novo tempo nascerá para os artistas e toda a sociedade. E isso só será possível graças ao trabalho incansável de Tiões Pinheiros, que acreditaram na utopia de lutar pela cultura, a Geni desta era de sombras.
Assim, amigo e mestre, parabéns pela conquista e obrigado por liderar essa batalha cruel e muitas vezes insana em nosso nome.
Abraços a essa equipe competentíssima que faz a via sacra com você: Valéria, Aurielly e os demais.
Saudações,
CT