Caro prefeito Clayton Paulo,
Acompanho com preocupação esse atraso do pagamento de parte do programa Tocando em Frente, do governo do Tocantins. Conversei com alguns colegas seus e com você nesses dois dias e vi todos apreensivos e também decepcionados com o governador Wanderlei Barbosa.
Não sem razão. Porque fica a sensação de que o caso saiu do campo institucional, onde deveria permanecer, para se tornar uma questão de vontade pessoal do governante. Ou seja, se o chefe do Executivo estadual achar por bem paga, se não, não paga. Será? Espero muito estar com o sentimento errado.
Mas seu caso especificamente, prefeito, reforça essa impressão. Assisti horrorizado o vídeo da fala de Wanderlei na passagem por sua Nazaré, durante as eleições, quando o governador foi fazer campanha para o candidato Padre Josimar. Wanderlei se referiu ao Tocando em Frente, admitiu que faltou “um pouco” para pagar à cidade e soltou o que me fez pensar que meus ouvidos não estavam funcionando bem. Culpou pelo não pagamento o fato de você não se aproximar dele e, supostamente, o xingar à distância. Inacreditável!
Minha leitura após o susto pelo que ouvi — e me fiz ouvir várias vezes para ter certeza — foi de que o governador do Tocantins entende que só deve pagar quem ele quer e, para receber, o prefeito tem que rodeá-lo com risos e afagos. Será que é isso mesmo?
Ou seja, Clayton, a relação, como afirmei acima, saiu do campo institucional para se tornar uma questão de capricho pessoal. Será? Ainda estou meio sem acreditar.
Na verdade, o Tocando em Frente, como qualquer outro programa de governo — seja estadual ou federal —, é resultado de convênio entre instituições, não entre pessoas. Assim, governador (ou secretário de estado) e prefeito assinam um documento como representante do governo do Estado e do município. Não é um contrato entre pessoas físicas. Pensei que isso era muito claro, mas parece que não.
Caro Clayton, estaria o governador com síndrome de Luís XIV, o Rei Sol, aquele que teria dito L’État, c’est moi (“Eu sou o estado”)? Prefiro acreditar que Wanderlei continua ostentado outro epíteto, o de Curraleiro, pelo qual foi reconhecido pelo eleitorado, que, por esse símbolo de humildade, o reconduziu ao cargo que herdou por circunstâncias jurídicas de Mauro Carlesse. De governador, não de imperador, que fique claro!
A Secretaria Estadual da Comunicação me garantiu que não haverá calote e que as pendências serão pagas neste exercício, independente das idiossincrasias de nosso Rei Curraleiro.
Oremos.
Saudações democráticas,
CT