Cara secretária Dhieine Caminski,
Muito oportuna sua fala sobre esta triste notícia de que estamos abaixo da meta de imunização da tríplice viral, que protege contra o sarampo, a caxumba e a rubéola. Isso em meio à confirmação da Secretaria de Saúde do Tocantins de seis casos de sarampo em Campos Lindos. “A vacinação é um ato de responsabilidade individual e coletiva”, disse você. Perfeito. Quem adere ao disparatado movimento antivacina, seja de forma deliberada ou por relapso, atenta contra si, sua família e contra a comunidade em que está inserido.
Em abril, secretária, foi divulgada a história do pai de uma menina de 8 anos que morreu devido ao sarampo em Seminole, no Texas (EUA), estado com um surto da doença, que matou duas pessoas. O homem, membro de uma seita fundamentalista, dizia-se não se arrepender de não ter vacinado a criança. O sujeito ainda avisou a imprensa: “Se eu tiver outros filhos no futuro, eles não serão vacinados de jeito nenhum”.
É essa a mentalidade a que se equivalem, cara Dhieine, aqueles que se filiam ao obscuro movimento antivacina. É um retorno da humanidade aos períodos anteriores ao Iluminismo, às trevas em que o mundo estava submerso.
O Brasil sempre foi exemplo para todos os países em cobertura vacinal. Havíamos recebido o certificado de eliminação do sarampo em 2016, mas o perdemos em 2019 devido à reintrodução do vírus e a queda na imunização. Recuperamos o certificado no ano passado, e agora a doença reaparece.
Na pandemia da covid-19 todos os esforços vacinais do Brasil foram prejudicados pela força conquistada pelo movimento antivacina, graças a um governo que se escorava na ignorância e não na ciência. Ao contrário de seus antecessores, que investiam fortemente nas campanhas de imunização, a gestão Jair Bolsonaro apostou em remédio para vermes e parasitas, desestimulou isolamento social e máscaras e só comprou em vacinas quando viu-se politicamente pressionado pela CPMI e pela opinião pública.
O resultado de tamanha ignorância foram mais 700 mil mortos, 10% de todos os óbitos registrados no mundo, o segundo índice mais alto no planeta. E veja só, secretária, de acordo com Pedro Hallal, epidemiologista e pesquisador da Universidade Federal de Pelotas, quatro em cada cinco mortes pela doença no país eram evitáveis, caso o governo federal tivesse adotado outra postura — apoiando o uso de máscaras, medidas de distanciamento social, campanhas de orientação e, ao mesmo tempo, acelerando a aquisição de vacinas.
As péssimas notícias não terminaram aí. Após a pandemia, o movimento antivacina continuou forte e o Brasil, exemplo no passado, não conseguiu mais cumprir metas vacinais importantes. Em junho chegou a informação de que, em 2023, apenas uma em cada três cidades brasileiras cumpriram esses objetivos de imunização. O dado é do Anuário VacinaBR 2025, levantamento inédito do Instituto Questão de Ciência (IQC), em parceria com a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). Outro trágico legado do bolsonarismo.
Por isso, a importância, cara Dhieine, de seu trabalho e de sua equipe, e da força de sua declaração.
Que o Brasil, secretária, possa se reencontrar com a ciência, o bom senso e o século 21, para garantirmos um futuro melhor às nossas crianças e aos mais vulneráveis. Além de colocarem em risco nossa democracia, a extrema direita está fazendo com que doenças que considerávamos extintas voltem a nos assombrar.
Tempos obscuros.
Saudações democráticas,
CT