Caro Diogo Borges,
Estou assistindo horrorizado a “recolonização” da Associação Tocantinense de Municípios, a ATM, pelo Palácio Araguaia, bancada federal e Assembleia Legislativa. É o mais completo retrocesso. Voltamos à primeira década de 2000, quando a entidade era mero “puxadinho” do governo ou de congressistas, que escolhiam presidente e diretores e os usavam como seus cabos eleitorais.
O amigo me desculpe a franqueza, mas, ao aceitarem ser tutelados pela alta cúpula da política estadual, os prefeitos estão cuspindo e jogando no lixo todo o trabalho realizado pelo presidente João Emídio e seu grupo, em meados da década de 2010, para garantir que a ATM se tornasse o que vinha sendo até agora: autônoma e um órgão, realmente, de defesa dos municípios, não mero aparelho eleitoral, como naquele passado.
A postura digna da entidade, que se tornou referência de qualidade de gestão e escudo efetivo dos interesses dos cidadãos — inclusive, na avaliação de órgãos de controle –, foi continuada nas duas gestões de Jairo Mariano e nas suas, Diogo. Agora, o que me parece, é que os prefeitos que discutem o processo sucessório estão dispostos a colocar tudo isso a perder para ter as bençãos de governador, senadores e deputados. O que estamos assistindo abismados mostra a pequenez dos que tentam capturar a entidade para seus caprichos, mas, sobretudo, dos que não demonstram o mesmo compromisso de João Emídio e seus aliados com o municipalismo, ao se submeterem a essa intromissão indevida.
Como a ATM vai atuar a partir de agora? Vi você, Diogo, o Jairo e o João Emídio, algumas vezes, agindo com firmeza com governos e bancadas em defesa dos interesses municipalistas. Alguém eleito pela complacência de quem é estranho à entidade, que a quer aparelhada para seus interesses eleitorais, terá autonomia para cobrar questões sobre o ICMS, como tem apontado o corajoso prefeito de Araguaína, Wagner Rodrigues, ou será apenas um “cordeirinho de Deus”, um bom cabo eleitoral para 2026? Isso, presidente, é vergonhoso.
Não estou dizendo a você que a ATM tem que ser inimiga do Palácio, da bancada e da Assembleia. Nada disso. São parceiros importantíssimos para o desenvolvimento dos municípios. O que insisto — e foi a defesa de João Emídio lá atrás — é que a associação não pode ser “cozinha” de ninguém. Precisa ter autonomia e independência para cobrar. Inclusive para emitir notas e declarações públicas, se necessário se fizer, para exigir o que é de direito das prefeituras. Os tutelados poderão fazer isso?
Quando vejo vagas de vice e diretores da entidade sendo definidas, de forma ultrajante, em gabinetes de Palácio, Assembleia e bancada tenho a certeza de que toda luta independentista de João Emídio e seu grupo está sendo desprezada.
A indignação, Diogo, não é contra os nomes colocados, todos muito qualificados, mas com a vassalagem como está sendo tocada essa pré-campanha, com grupos de prefeito se dobrando aos desejos de quem ocupa cargos mais reluzentes.
É uma pena, e mostra a pequenez de todos os envolvidos nesse processo ignominioso. Como tenho dito, presidente, passamos por retrocessos que demonstram que nossos tempos não são bons e nossos líderes não se portam à altura do que nossos municípios, Estado e País precisam. A pré-campanha da ATM reforça meu pessimismo com esta época obscura.
Saudações democráticas,
CT