Caros homens e mulheres de boa vontade,
Dona Sandra está viajando há quase 15 dias e, para minha alegria, retorna a Palmas nesta terça-feira. Ao pegar o voo para ficar com a mãe, uma recomendação imperou com ares da mais absoluta severidade: que eu não deixasse de aguar, pelo menos a cada três dias, suas plantas que ficam dentro de casa. Claro que essa tarefa sequer passou pela minha cabeça diante dos inúmeros afazeres do dia a dia para equilibrar as funções de empresário, jornalista, pai de pet, pai de adultos e aspirante a escritor.
Até sexta-feira — portanto, mais de dez dias depois da severa ordem recebida –, quando me dei com a folhagem de uma dessas plantas totalmente prostrada. As várias folhas esvaeciam sobre o vaso, alcançando o banco de madeira. À minha frente via um ser humano nos estertores, com a vida se dissipando rapidamente. Foi a impressão que tive, e esse impacto tão brusco me fez sentir um assassino. Bateu-me o desespero, minha consciência jogou-me ao chão. Enfim, via-me como o pior dos seres, uma espécie de Benjamin Netanyahu da flora.
Todo o episódio ocorreu no final do dia de sexta-feira. Com o peito apertado, enchi um copo grande de água e o despejei sobre a paciente em estado crítico. Fiz isso em todas as plantas, e reparei que outras também apresentavam o estado de inanição quase tão lastimável quanto aquela que me impactou como um soco de Mike Tyson. Amigos e amigas, homens e mulheres de boa vontade, a imagem daquelas folhas “desmaiadas” sobre o vaso e o banco não me saía da cabeça. Volta e meia ia averiguar se reagiam, mas nada. Do mesmo jeito. Aflito, conversava com a planta, pedia desculpas e até arriscava uma oração para que os céus socorressem aquele ser indefeso a quem eu admitia ter feito tanto mal. Dormi pessimamente.
Sábado cedo, a primeira coisa que fiz ao levantar foi correr até a sala para visitar a paciente. Para minha alegria, lá estava ela ressurreta! As folhas em pé, exibindo um verde lindamente lustroso. Confesso que me emocionei, pedi perdão à plantinha e conversei novamente com ela, enquanto a alimentava com mais água. Quando passei com o copo pelos outros vasos, percebi que todas as folhas se aprumaram e brilhavam. Minha felicidade foi indescritível! Agora estou hidratando essas belíssimas criaturas duas vezes ao dia — o que nem sei se é certo. A plantinha que me chocou ao vê-la tombada e quase sem vida, neste momento viceja alegre e jovial.
Estou ficando velho rapidamente e, quanto mais a idade chega, mais sentimental me torno. Isso me levou a amar profundamente meus cachorros e gatos e até a me tornar vegetariano por causa deles.
Após essa via crucis do profundo desespero à alegria mais plena e verdadeira da ressurreição, muito aliviado, liguei a televisão para me distrair um pouco. Deparei-me com israelenses e iranianos, loucamente, tirando a vida uns dos outros por causa de um ódio milenar. Como podem dar tão pouco valor à vida?
Voltei a ficar triste.
Saudações democráticas,
CT