Caro Laurez,
Escrevo esta missiva porque a correria está grande aí e aqui para que nos encontremos. No seu entorno, ninguém tem perdido tempo para responder mensagens de um reles operário das letras. Somos deixados no vácuo, nossas perguntas são solenemente ignoradas. Assim, creio ser mais prático, para você e para mim, este formato epistolar que remonta a priscas eras, mas que continua muito eficaz.
Tudo bem que só está começando, que sua gestão tem apenas uma semana e que nasce sob mais um tsunami que engoliu o Tocantins, um Estado já marcado por sua história de corrupção governamental e pela falta de limites de seus políticos. Contudo, Laurez, ainda considerando todo o torvelinho que o chacoalha, gostaria de fazer algumas pontuações.
Inicialmente, governador, o desfile em carro aberto no Sete de Setembro, seu primeiro grande evento público, com o senador Irajá ao lado. O que ele fazia lá? Fiquei pasmo. Era a entrada da noiva, quando ela deve mostrar à multidão que é única, bela, diferente. Assim, não entendi. Nada contra o senador, poderia ser qualquer outro político, mas o momento deveria ser só seu. Naquele carro, ele era um intruso. O efeito prático dessa derrapagem foi que você ficou em segundo plano e todo mundo só olhou para Irajá, claro, como eu, perguntando-se que diabos o senador fazia ali.
O Raul é um grande quadro para o Estado, mas esse remendo feito para contemplá-lo, com a nomeação do filho na Governadoria, ficou estranho. O grande articulador é o ex-prefeito de Palmas, mas ele é quem vai exercer esse papel sem a devida legitimidade, que se dá pela nomeação, ou ficará a cargo do filho, que não tem experiência política para tanto?
Entendo as dificuldades de se formar um governo sob as circunstâncias em que você assumiu, mas é preciso cuidar para não passar uma má impressão inicial. Esses obstáculos começam pela apreensão de que ocorra a volta do governador afastado, o que me parece pouco provável, mas quem está num projeto bem-sucedido pensará duas vezes em trocá-lo por uma gestão que depende de uma decisão judicial para se consolidar. Por esse mesmo impasse, inclusive, passa a articulação para se construir uma base na Assembleia.
Do ponto de vista da gestão, é preciso considerar que as chuvas vão começar dentro de alguns dias e, depois, serão meses em que as obras não poderão avançar. E, então, chega mais uma “safra” farta de buracos nas rodovias. Maio, quando a estiagem retorna, quase coincide com o período de vedação legal, que restringe nomeações, licitações, entre outras medidas importantes para o processo administrativo e eleitoral.
Em meio a essas dificuldades, caro Laurez, é preciso que você mostre à sociedade um governo transparente, de boa gestão e conectado com o povo tocantinense. Alcançar essa conexão com a população é o grande atalho para driblar a instabilidade imposta pelos prazos judiciais no julgamento do recurso de Wanderlei e ainda para conseguir a adesão de prefeitos e deputados a seu governo.
Bom não perder de vista que as eleições de 2026 já estão em andamento. O eleitor comum só entrará nelas em agosto do ano que vem, mas nós, os “operadores da política” — jornalistas, publicitários, advogados, assessores e políticos –, estamos mergulhados até o pescoço nas campanhas, antecipadas, sobretudo, por mais uma virada de tabuleiro.
Assim, saber se comunicar com competência, na medida certa, no momento apropriado e no tom preciso, será fundamental para que sua gestão sobreviva bem e seja vitoriosa diante dos desafios que estão postos e das limitações que o curto tempo impõe à sua frente.
Saudações democráticas,
CT