Caro Leomar Quintanilha,
Há muito tempo que não nos falamos. Acredito que desde a época em que você foi candidato pela última vez numa eleição, em 2010, quando, ainda senador, decidiu disputar vaga de deputado federal. Sempre muito cortês no tratamento com todos e muito discreto na atuação, depois que deixou o política partidária só é lembrado em período de sucessão na Federação Tocantinense de Futebol, por ter se eternizado na presidência. Por isso, o fato de seu nome ter vindo à baila agora me surpreendeu, mas mostra que as pessoas estão insatisfeitas com o atual momento do futebol tocantinense. As vozes que se levantaram publicamente não representam uma indignação pessoal, mas coletiva.
É nesse contexto que vejo as críticas que recaem sobre a condução da FTF. Apesar de ser um daqueles que — para citar textualmente a nota de apoio e de repúdio da assembleia da federação — “nunca sequer visitaram a sede da federação, que não sabem o endereço da entidade, que não possuem serviços prestados ao futebol”, gosto de analisar no sentido de contribuir para o entendimento, não para atacar ou denegrir quem quer que seja.
Acredito que a FTF tem um papel altamente relevante para promover o esporte preferido dos brasileiros, e dos tocantinenses, e que você é, sim, um personagem importante e histórico para o futebol do Estado. Contudo, presidente, a política é feita de ciclos. Podemos ver isso através da história mundial, em que reis e também impérios de expressivo significado para a humanidade entraram em decadência após longo apogeu; ainda na evolução do Brasil, como a política do café com leite, um revezamento de paulistas e mineiros no poder; do Tocantins, onde a UT foi hegemônica por 11 anos, mas acabou superada, entre outros incontáveis casos.
Uma hora o modelo se esgota, as pessoas se cansam e vem a necessidade de mudança, de que outras experiências se sucedam. A resistência ao fim dos tempos de poder é normal, e nenhum regime, nenhum império, ruiu sem tentar uma prorrogação, para usar um termo futebolístico. Mas a ruptura se impõe, não pede licença nem fica na porta esperando. Se os que definham relutarem acima do que normalmente é aceito, duas consequências são possíveis: ou serão derrubados à força e ficarão como uma nódoa nas páginas da história, ou a nação/entidade perderá espaço, ficará parada no tempo e isso prejudicará todo um povo ou setor de atuação. Portugal, por imposição da Igreja, resistiu à Revolução Industrial do século 18 e se tornou irrelevante na economia global, depois de ter construído um império intercontinental.
Nosso futebol, é fato, vive à porta do Palácio, como bem disse o presidente da Assembleia, Amélio Cayres, mendigando apoio para continuar sobrevivendo, enquanto o presidente da FTF pode estar obtendo uma remuneração que chega a R$ 2,580 milhões ao ano, segundo a revista Piauí, o que a entidade nega, mas não revela qual é o valor correto. Ora, Leomar, o governador Wanderlei Barbosa anunciou recentemente um aporte de recursos dos contribuintes de R$ 3 milhões para os clubes da primeira divisão do campeonato tocantinense, quase o mesmo montante que você pode estar recebendo de salários da Confederação Brasileira de Futebol, a CBF. Se não é verdadeiro esse valor, qual seria?
Os times da segunda divisão clamam do governo do Estado o pagamento de míseros R$ 650 mil, R$ 50 mil para cada um dos 13 clubes, e disseram à CCT que tem até quem esteja suspenso, veja, por não conseguir pagar a arbitragem. Há vários encalacrados com a Justiça do Trabalho. E esses abnegados do futebol contaram pagar de taxa de inscrição para o campeonato de mais de R$ 18 mil, por clube.
Ainda assim, Leomar, não há sequer premiação em dinheiro para o clube da primeira divisão que vence o tocantinense, o que desprestigia a própria competição estadual. Como futebol profissional, deveria haver. Como motivação para que os times busquem recursos e invistam em qualidade, deveria haver. Concordo, assim, com os críticos, como Amélio Cayres, Max Fleury, Lucas Campelo, Vanderlei Luxemburgo, entre outros.
Claro, presidente, que vejo inúmeras dificuldades, mas a FTF precisa usar de sua influência para buscar soluções que alavanquem o futebol do Estado. Simplesmente atacar os críticos por notas fabricadas, assinadas por quem não está em condições de dizer não à entidade, pelas circunstâncias mais óbvias, é resistir inutilmente ao tempo que clama por mudança. O que, reforço, apenas servirá para deixá-lo mal nas páginas da história ou emperrar ainda mais o bom desempenho que todos desejamos ao nosso futebol.
Saudações democráticas,
CT
- Esta coluna passa a ser publicada às terças, quintas e sábados.