Caro vereador Marcos Duarte,
Escrevo a você para me solidarizar diante da situação anômala com a qual nos deparamos na sessão dessa segunda-feira, quando teve que, constrangedoramente, se desgastar de público ao cobrar a grana que emprestou a colegas que — acredito eu — viviam terríveis momentos de dificuldades. Isso é um problemaço, amigo. Meu pai sempre me dizia para dar dinheiro, mas nunca emprestar a amigos. Porque, explicava meu saudoso e querido velho, você perderá a bufunfa e a amizade. Essa situação embaraçosa que o nobre parlamentar experimenta, mais uma vez, me fez dar razão a seu Heitor.
Você se mostrou um excelente amigo desses seus companheiros de Parlamento. Veja: todos dávamos como certa sua eleição a presidente da Câmara, antes mesmo das campanhas municipais do ano passado. Nesse período, Marcos, emprestou dinheiro a vereadores — de novo, creio eu — que viviam em situação de penúria. Será que eles tiveram a coragem de se voltar contra sua candidatura e ficar entre os que elegeram Max Baroli ao comando do Legislativo araguainense? Se for o caso, quanta ingratidão!
Num mundo em que a falta de empatia é generalizada e o apego às coisas materiais torna os seres humanos cada vez mais individualistas e insensíveis, encontrar um amigo disposto a nos socorrer nos momentos de aperto financeiro é de uma raridade absurda. E, Marcos, quase 80% dos brasileiros estão endividados, segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic). Assim, como esses seus colegas, que devem estar englobados nessa estatística, se dão ao luxo de traí-lo tão covardemente a esse ponto? Onde poderão encontrar tamanha benevolência como a sua nos momentos de terríveis apuros que cercam todo encalacrado financeiro de tempos em tempos? Haverá tantos altruístas como Marcos Duarte espalhados por Araguaína?
Evoco Goethe: “A ingratidão é sempre uma forma de fraqueza. Nunca vi homens hábeis serem ingratos”. Também o pai de Dom Quixote, Miguel de Cervantes: “Entre os pecados maiores que os homens cometem, ainda que alguns digam que é a soberba, eu digo que é a falta de agradecimento”. E ainda Alexandre Dumas: “Há favores tão grandes que só podem ser pagos com a ingratidão.” Todos esses grandes vultos da literatura universal, vereador, são testemunhas a seu favor.
Que os céus sejam avalistas cabais de sua retidão, beneficência e nobreza de espírito, diante de tamanha injustiça que sofreu ao auxiliar companheiros de labuta em seus minutos de dores, depois ser traído politicamente e engambelado financeiramente.
Não tenho dúvida, vereador, de que, a despeito da ingratidão humana, juntaste tesouros onde nem a traça nem a ferrugem consomem, onde os ladrões não minam, nem roubam, onde os judas, como esses a quem socorreste, não terão acesso.
Saudações democráticas,
CT