Caro Dr. Márlon,
Como era esperado, o Tocantins e a região de Estreito, Porto Franco e Carolina, no Maranhão, estão vivendo uma das maiores tragédias socioeconômicas de nossa história. No caso do lado de lá, pelo menos o governador Carlos Brandão tem sido muito presente e acabou de lançar um pacote de socorro a empresas e trabalhadores para aliviar o sofrimento desses quase 40 dias de isolamento, por conta do desabamento da Ponte JK em 22 de dezembro. Do lado de cá, amigo, estamos acéfalos. O titular do cargo, Wanderlei Barbosa, viajou para a Suíça e ainda impediu, com a cumplicidade da Assembleia, que seu vice assumisse o comando em sua ausência, por pura birra pessoal.
Enquanto nosso barco segue à deriva, a gravidade dos reflexos do acidente — ocorrido claramente por omissão do Dnit, do governo federal e das bancadas federais dos dois Estados — se torna cada dia mais preocupante. Dos dois lados, as pessoas estão ilhadas. As balsas, que deveriam estar funcionando imediatamente após o desabamento da ponte, até agora nada. O Dnit, o omisso, acaba de revogar a contratação da Pipes. Desesperado, o prefeito de Estreito, Léo Cunha, requisitou duas embarcações administrativamente por 60 dias, mas Marinha as interditou. O que fazer?
Os municípios tocantinenses, caro dr. Márlon, sendo destruídos pelo tráfego intenso de caminhões que antes passavam pela Ponte JK, o que eu havia antecipado dias depois do acidente, após uma conversa que tive com especialista da área. Primeiro foi o prefeito de Axixá, Auri-Wulange Ribeiro Jorge, que cobrou solução do Dnit, o omisso, e do governo do Estado. E ele quer que ambos reconstruam o asfalto, meio-fio e calçamento. Pouco antes da campanha eleitoral do ano passado, Auri me ligou para comemorar que terminaria seu mandato com toda a cidade pavimentada, uma conquista aguardada havia décadas pela comunidade. Essa luta dele e de seu povo foi macetada pelos pneus dos caminhões. Agora o prefeito de Tocantinópolis, Fabion Gomes, também sem saber o que fazer, apelou para o extremo e proibiu a passagem de veículos pesados pelo perímetro urbano. Além disso, o comércio em frangalhos. Muitas empresas devem quebrar e muitos tocantinenses ficarão desempregados,
Enquanto, isso a comitiva do Estado, liderada pelo governador, comemora nas redes sociais um feito: na Suíça, conseguiram fazer uma foto com ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair. Ironia à parte, dr. Márlon, essa viagem de Wanderlei é totalmente fora de hora. Nada haveria lá que não pudesse ser conduzido por um secretário da área, no caso — fica a impressão, não está totalmente claro o que foram fazer –, o tema parece ser o meio ambiente. Marcelo Lelis é um político habilidoso e poderia tocar a pauta. Aqui, não, amigo. O Tocantins sente a ausência de um dos dois líderes que elegeu para comandar o Estado neste complexo e traumático momento que vive.
Veja, dr. Márlon, não se viu anunciar uma reunião importante do governador com os prefeitos do Bico do Papagaio para discutir essa grave situação. Wanderlei foi ao local logo após o acidente, acompanhar o ministro dos Transportes, Renan Filho, e só. A reunião remota de sexta-feira se mostra total e absurdamente inócua: “determinou” balsa gratuita sem qualquer efeito prático, porque as pessoas continuam atravessando o rio de voadeira, a R$ 10 por cabeça. E serviu para o Basa anunciar liberação de recursos do Pronaf para os trabalhadores rurais, uma ação do governo federal, não do estadual.
O governador do Maranhão deu exemplo para seu colega tocantinense de como deve ser feito: assumiu juros de empréstimos, jogou para julho a primeira parcela do IPVA em Estreito, Porto Franco e Carolina; e abriu quase mil vagas de estágios para as três cidades. E Carlos Brandão avisou que está indo pressionar o governo federal a socorrer.
Com a PEC do Laurez, que impede o vice-governador de assumir, Wanderlei deveria ter cancelado sua viagem à Suíça. Como o amigo me disse esses dias, o governador viajou de lazer para Jericoacoara e Lençóis Maranhenses e agora foi para a Suíça, quando deveria estar sendo observada a situação de calamidade pública em que estão as cidades do Bico pessoalmente, e não a quase 8 mil quilômetros de distância, mesmo considerando as tecnologias. Porque a situação exige a presença do líder para conversar diuturnamente com prefeitos, empresários e população, para que sintam que não estão à deriva, como todos nos sentimos neste momento. É surreal.
Que venham novos tempos. Precisamos.
Saudações democráticas,
CT