Caro Rômulo Macêdo Barreto de Negreiros,
Aproveito que vai ministrar a palestra “Pinturas rupestres e arqueologia no Tocantins”, nesta terça-feira, 25, a partir das 19 horas, no Ministério Público, para reforçar a preocupação que ativistas ambientais e turistas têm trazido até mim sobre o abandono de pinturas rupestres no Estado. Em janeiro, um grupo esteve numa caverna nas serras no entorno de Palmas e fez fotos de causar indignação. O pedaço da parede com um desses registros deixados por nossos antepassados está quebrado e toda a beleza deixada pelos artistas da pré-história vai se perdendo. O sinal claro de vandalismo, prezado Rômulo, revela quem somos como cidadãos e que tipo de organização social temos.

Vivemos tempos de ignorância profunda. Em meio a tanta informação, fomos tomados pela desinformação. Isso porque a alta tecnologia chegou a um povo que nunca teve preparo intelectual para lidar com ela. Saltamos da oralidade para o audiovisual e pulamos a fase da leitura. Assim, por completa incapacidade cognitiva, repelimos o conhecimento e aceitamos a primeira teoria conspiratória que nos chega pelo “tio do zap”. Mais fácil que ler e estudar, buscamos atalhos em nossos instintos para formar opinião sobre tudo. O transe em que mergulhamos nos últimos anos, flertando com o fascismo e chamando-o de “liberdade”, é exemplo cabal disso.
Talvez em nenhum outro momento da história brasileira nossa ignorância foi tão exposta e, ao mesmo tempo, se mostrou tão nefasta como no período do qual acabamos de sair. O resultado foi devastador: ainda mais retrocessos na educação, na ciência, na cultura, no meio ambiente, nos direitos humanos. Centenas de milhares de mortos por um vírus cuja contaminação seria evitável se a racionalidade e iluminismo nos pautassem. Mas, seduzidos pelo obscurantismo, justamente por não estarmos protegidos pelo escudo do conhecimento, chafurdamos nessa lama de uma espécie de déficit cognitivo coletivo.
Se nossos cidadãos são incapazes de perceber o valor histórico das pinturas rupestres, nosso poder público — composto por integrantes dessa mesma fauna ignara — não consegue enxergar motivo para investir na preservação dos sítios. Quando os interesses públicos são tocados por quem não tem condição de absorver minimamente o significado da arte e da história, tudo que vem delas parece descartável, caro, desnecessário, frivolidade.
Esse é o cenário que me vem à mente quando me deparo com a destruição de tamanha preciosidade histórica que temos a sorte de estar à nossa volta — sorte a nossa e azar a dela, por depender dos cuidados gente de mentalidade tão tacanha.
Estamos imersos, amigo, em tempos de total obscurantismo.
Que você possa levar luz nessa palestra e, culturalmente, ressuscitar algumas almas.
Saudações democráticas,
CT