Caro eleitor tocantinense,
A nova fase da operação que assistimos nesta semana é só mais um complicador para se avaliar o quadro sucessório do Estado para 2026. É o que mais me perguntam quando me encontram nas rápidas saídas que faço do meu bunker e pelas redes sociais: quais serão os candidatos ao governo no ano que vem e quem tem mais chance. Sempre penso que me confundem com a Mãe Dináh. De toda forma, dá para traçar alguns cenários possíveis.
Vamos considerar que o governador Wanderlei Barbosa vai mesmo cumprir o que vem dizendo e não renunciará ao mandato abril de 2026. A questão que surge, então, é quem será o candidato à sucessão que ele vai apoiar. Aí, claro, vão as minhas impressões sobre o cenário, levando em consideração perfil de candidato, grupos e contexto eleitoral.
Assim, vejo que o pior nome para Wanderlei é o do presidente da Assembleia, Amélio Cayres. É quadro microrregional, não fez uma gestão nada impressionante no comando do Legislativo, mero arroz-com-feijão; e a cidade dele, Esperantina, que sua família comanda há muitos anos, tem alguns dos piores indicadores de desenvolvimento humano e educacionais do Estado. Enfim, Amélio continuará sendo deputado estadual se quiser e pode arriscar um voo um pouco maior para federal. Mais do que isso, governo ou Senado, seria arriscar demais para o tamanho dele.
Esse cenário ainda pode jogar a senadora Dorinha Seabra Rezende nas graças da oposição. Ela teria apoio dos prefeitos das cidades maiores e ainda até juntar a ela o vice-governador Laurez Moreira. Num embate entre Dorinha e Amélio, não tenho dúvida de que a senadora leva, com margem tranquila. Se o candidato for Laurez, com apoio de todo esse grupo de importantes prefeitos, da senadora e outros quadros de peso na oposição, também apostaria mais no vice.
Se Wanderlei optar pelo senador Eduardo Gomes, não acredito que seja muito diferente. Ele é um grande líder, diferente de Amélio, mas o senador errou muito desde 2022, quando prefeitos e vereadores o queriam governador. Se Gomes disputasse na última eleição estadual, Wanderlei teria enormes dificuldades para se reeleger. Por isso que digo sempre que o Palácio comemorou mais do que Ronaldo Dimas a decisão do senador de não concorrer. Assim, para mim, Gomes perdeu o timing.
No ano passado, o PL, comandado por Gomes no Estado, teve um desempenho pífio, ao eleger só três prefeitos contra seis em 2020. Não entendi até agora o motivo de o senador ter colocado tanto a alma e todas as suas fichas na campanha de Janad Valcari. Tudo bem, ela é do partido dele, estava bem colocada, mas a aposta de Gomes foi muito além do que o senador costuma fazer. Foi totalmente atípico e descadenciado esse movimento dele.
Além disso, tentou meter o pé em candidaturas do PL no interior, caso mais visível de Dianópolis, e gerou muita insatisfação. Acho que o senador errou muito nessas duas eleições, e vive num limbo: não pode se assumir progressista, mas também é muito racional para empunhar as bandeiras dos doidos do bolsonarismo mais aloprado. E isso lhe causa desgastes dos dois lados.
Se Wanderlei optar por Dorinha terá muito mais chances e será, possivelmente, contra o vice-governador Laurez Moreira. Pode dividir os prefeitos das maiores cidades ou até mantê-los unidos em torno da senadora (não dele, Wanderlei). O problema aí é para Dorinha, que terá que silenciar diante de um monte problemas da gestão: desde o descontrole das contas (que, se agravar mais, pode atrapalhar muito a campanha palaciana do ano que vem) até operações policiais (a Fames-19 é a mais grave delas). Se eleita nessa base, a parlamentar não terá o direito de reclamar da situação que vai herdar porque sabia e aceitou esse jogo.
Agora, se o roteirista do Tocantins virar a mesa novamente — como em 2010, 2014, 2018 e 2022, ou seja, em todas as vésperas das últimas quatro eleições –, aí complica muito. Se Wanderlei for afastado — e essa possibilidade é real –, Laurez Moreira assume. É bom gestor, não faz política com fígado — ao contrário do atual detentor do cargo –, varre pra dentro, conquista prefeitos de grandes, médias e pequenas cidades e se torna um candidato muito competitivo para enfrentar Dorinha. Nesse contexto, claro que a máquina sempre terá mais força, mas a senadora detém uma musculatura que não pode ser desconsiderada. Diria que o vice de hoje, nessa disposição do tabuleiro, teria certa vantagem, mas numa disputa cabeça a cabeça.
No entanto, como afirmei na missiva dessa quarta-feira, pode ter gente engessando o inquérito para Wanderlei ficar de refém político. Pode não haver motivo legal para afastar o governador e ainda há a possibilidade de o inquérito ser arquivado e toda essa galera ser inocentada. Isto é, não dá para dizer que haverá afastamento. Lógico, nem que não haverá. Aquela história, pode ocorrer tudo, inclusive, nada.
De toda forma, a corrida sucessória promete muitas emoções.
Saudações democráticas,
CT