Caro governador Wanderlei,
Tenho ouvido muito se dizer que o senhor foi o grande derrotado dessas eleições municipais. Pessoalmente, teve suas derrapagens, é verdade, e não foram poucas. Seus candidatos, aqueles em quem mais apostou suas fichas, estão fragorosamente derrotados. Porém, não é o único prisma pelo qual se deve avaliar o resultado eleitoral. Como mandatário maior do Estado, a consideração precisa se dar pelo conjunto do fechamento das disputas e não por casos individualizados. Além disso, suas apostas pessoais se deu por amizade, por fidelidade, por companheirismo, não pela competitividade. Isso é algo a se louvar do ponto de vista da moral, mas também um erro crasso sob a perspectiva política, uma vez que o efeito é o que estamos vendo, desgaste para o governador e a possibilidade de enfraquecimento do governo.
Os números lhe são extremamente favoráveis: seu partido, o Republicanos, foi o que mais elegeu prefeitos: 56 dos 139 municípios tocantinenses, ou seja, 40,3% das prefeituras do Estado estarão sob o comando de sua sigla. Esta, sim, é uma conquista pessoal do senhor porque o Republicanos, em 2020, saiu das eleições com apenas 1 prefeito, e só se tornou a grande legenda de hoje a partir de sua filiação em 2022. Também o senhor foi o quinto governador que mais elegeu chefes de Executivos municipais, à frente de nomes como Ronaldo Caiado (UB), de Goiás (39%); e Jerônimo Rodrigues (PT), da Bahia (12%). Portanto, pessoalmente, não foi o maior derrotado como se cogita, muito longe disso, ainda — repito — que tenha derrapado, e muito, em suas apostas.
Pelo prisma do grupo palaciano, o governo liderado pelo senhor foi extremamente vencedor. Com as 56 do seu Republicanos, os principais partidos da base fizeram 115 das 139 prefeituras: o União Brasil, 37; o Progressistas, 15; o MDB, 4; e o PL, 3. Isso significa que o Palácio terá 84% das cidades do Estado sob o comando de siglas aliadas. O que não é nem um pouco negligenciável.
O problema que sai das urnas para o senhor e seu governo é outro, que eu já havia adiantado em artigo no início do ano. As disputas internas da base e os erros da gestão no processo eleitoral produziram a oposição que o Palácio nunca teve. Isso, sim, é um contratempo real que terá que administrar daqui para frente. Há muita insatisfação de seus companheiros da batalha de 2022, que se sentiram traídos e abandonados em 2024; vitórias de líderes com capacidade extrema de articulação — o principal deles é Eduardo Siqueira Campos em Palmas, e muitos estão dispostos a segui-lo –; e a base na Assembleia trincou, com vários deputados muito insatisfeitos (tudo bem, pode ser que umas nomeações e liberações de emendas resolvam, mas vai depender do tamanho desse dissabor).
Por esse cenário de pós-“guerra” fica claro que seu governo não é o mesmo de antes das campanhas. Ele terá uma oposição mais fortalecida, ainda que não possamos dimensionar neste momento o tamanho e a força que os traumas eleitorais geraram.
Acho muito saudável que surja uma oposição de fato, e espero que ela seja propositiva, que debata os grandes temas de interesse do Tocantins e possa exercer uma crítica que efetivamente contribua até para que o senhor melhore sua gestão, o que é bom para toda a comunidade. Uma oposição forte e responsável faz bem à democracia. Estamos há 15 anos sob uma unanimidade burra, na expressão de Nelson Rodrigues, com a Assembleia como um “puxadinho” do Palácio e sem vozes na sociedade que se levantem para questionar, apontar e contribuir criticamente. Sou totalmente simpático à existência de um oposição propositiva e a Coluna do CT vai contribuir para que esse debate exista no Estado.
Boa sorte nesta reta final em que entra seu governo. Afinal, se o senhor acertar, todo o Tocantins ganha, e é o que desejamos.
Saudações democráticas,
CT