Caro prefeito eleito Eduardo Siqueira Campos,
Assisti a cerimônia de diplomação pelo YouTube, em Araçatuba, no interior de São Paulo, onde uma frase na madeira pendurada na parede da casa de minha tia Darci me fez lembrar de sua trajetória: “Mar calmo nunca fez bom marinheiro”. Tudo indica que as águas continuarão turbulentas por mais algum tempo, seja por conta de equívocos e atropelos da gestão que termina, seja pelo terceiro turno que ainda tentam impor os que não entenderam a mensagem disseminada por você desde o final da segunda etapa da disputa: as eleições terminaram e a hora é de pensar em Palmas.
No campo da gestão, para ser sincero, até um tempo atrás estava tranquilo e me parecia que seria uma transição sem sobressaltos, ou, para usar a metáfora marinheira inicial, a mais completa calmaria. Contudo, Eduardo, diante das movimentações das últimas semanas do governo que se esvai, comecei a me preocupar. Depois da limpeza ter parado por iniciativa dos trabalhadores, encarregados por outros serviços também mostram insatisfação. Mau sinal. Com o pagamento de uma parcela atrasada para a UB, a limpeza urbana foi retomada, mas a conta pendurada ficará para você acertar, já que a empresa não recebe desde setembro.
Há ainda a questão do transporte coletivo, motivo de muita insatisfação popular; agora o concurso da Educação questionado pelo Ministério Público. E sabe-se lá com quais outras surpresas nada agradáveis você pode se deparar a partir do dia 1º de janeiro.
Em outra frente, os derrotados das eleições de outubro se movimentam para emparedá-lo com a disputa da mesa diretora da Câmara, como fizeram — diga-se — com a prefeita Cinthia Ribeiro em 2021. Tomar o comando do Legislativo é uma forma de impedir a governabilidade. Como ouvi em todo o final de semana, de setores diferentes da política da Capital, os insatisfeitos com a fragorosa derrota, depois de não terem dúvida da vitória até em primeiro turno, querem um terceiro turno como ato de vingança. A lógica é a seguinte: “Se o povo não nos deixou governar, também não deixaremos você governar”.
Normalmente, quem perde a eleição precisa se recolher, dar tempo a quem venceu de reconhecer o terreno em que está pisando, organizar a casa e aplicar o projeto aprovado nas urnas. Para ter essa postura política madura, é necessário elevado espírito público. Cito como exemplo mais recente disso o ex-prefeito de Araguaína Ronaldo Dimas. Perdeu a eleição de 2022 para o governador Wanderlei Barbosa e como é, além de um dos mais competentes gestores do Estado, alguém altamente republicano foi cuidar da vida dele, ao invés de aparecer nas redes sociais e imprensa para atrapalhar quem tinha o desafio de administrar.
Caro prefeito, quem não se apequena na vida pública, como é o caso do Ronaldo, entende que impedir a governabilidade vai prejudicar no final das contas a população. Por isso, melhor se retirar da praça pública por um tempo e dar oportunidade a quem venceu de gerir a máquina. Se nesse período de tranquilidade constatar incompetência ou postura indigna no cargo, o líder derrotado tem a obrigação de voltar ao cenário e — aí sim — apontar os erros em defesa dos cidadãos.
Se você vencer essas grandes armadilhas que colocam à sua frente, terá todas as condições de buscar o segundo mandato. Obtendo-o em 2028 e mantendo um bom desempenho, não me venha novamente falar em pendurar as chuteiras. Temos um enorme vácuo de liderança, e não poderemos liberá-lo.
Se você não for um bom gestor, a própria população se encarregará de aposentá-lo.
Lembrando que seu pai, o governador Siqueira Campos, se elegeu para governar o Estado pela quarta vez com 82 anos. Se terminar seus oitos anos em Palmas com 73, como aventou em seu discurso, terá ainda muito o que contribuir com o Tocantins.
Ou seja, Eduardo, o futuro a Deus pertence.
Torço para que você vença os minúsculos de nossa política e que Palmas e o Tocantins ganhem novamente com essa sua outra vitória.
Saudações democráticas,
CT