Ai de ti, Tocantins,
Porque não se importam contigo; fartam-se do teu suor, apropriam-se do fruto do teu trabalho árduo, e ainda sentem-se como se tu continuasses em dívida. Eles não se emendam.
Ai de ti, Tocantins,
Porque dão de ombros para as tuas 180 mil famílias abaixo da linha de pobreza e oferecem shows e mais shows grandiosos para que ilusoriamente te divirtas enquanto faturam em dobro. Até no lazer te ludibriam para empanzinarem-se dos teus recursos com os quais eles mesmos se presenteiam. Não se emendam.
Insensíveis à tua dor e à tua fome, banham-se nas ricas praias do Araguaia e do Tocantins, desfilam em enormes lanchas, movimentam-se em lustrosas picapes e descansam em magníficas mansões, imperturbáveis a teu sofrimento, à tua vida de indigência, à indignidade da tua dependência do favor. Eles não se emendam.
Ai de ti, Tocantins,
Porque não querem o desenvolvimento de tuas cidades, mas a permanência de teu estado de precariedade. Afinal, sabem que a tua autonomia seria o fim da vida fácil e abastada que levam, regada pelos cofres fornidos por ti. Eles não se emendam.
Ai de ti, Tocantins,
Porque teu suor, tuas lágrimas e teu sangue derramados bancam a perpetuação no poder daqueles que te esfolam. Trancam-te num verdadeiro sistema de castas para que, sem mobilidade, continues servindo-os como sudras, elegendo-os e reelegendo-os incessantemente, e, assim, empanturrarem-se ininterruptamente das benesses extirpadas de ti em meio à tua dor.
Eles não se emendam, Tocantins.
Tocantins, meu amor… O que será de ti?
CT
P.S.: Singela homenagem ao inimitável mestre Rubem Braga, com o seu brilhante “Ai de ti, Copacabana”.