Caros BBBs de Lagoa da Confusão,
Devo dizer de cara que simplesmente abomino seu homônimo televisivo. Acredito que assisti no máximo uns dois ou três episódios lá no início, coisa de mais de 20 anos atrás. Foi o suficiente para nunca mais. Depois que saem da “casa” parece que os participantes ganham status de “artista”, ainda que até hoje eu não tenha conseguido identificar qual a expertise cultural deles.
De toda forma, é preciso reconhecer que nesse BBB global todos os “astros” confinados por alguns meses se tornam vencedores — ganhando o prêmio máximo ou não, uma vez que sempre faturam alguma coisa, aproveitando-se dos 15 minutos de fama previstos há algumas décadas pelo genial Andy Warhol. Também triunfam os promotores. Afinal, lucram milhões e milhões com os espíritos vazios que formam a audiência que tenta de alguma forma encontrar sentido para a sua vida nesse lixo cultural.
No caso do BBB de Lagoa da Confusão é diferente. Perdem os participantes da “casa” e os promotores do “programa”. Claro, encarando essa manobra coronelista sob o prisma do espírito público, do republicanismo, da democracia. Vocês, BBBs, saem derrotados primeiro pelo tratamento que lhes é dado. Não me refiro os sorrisos fáceis que lhe são dirigidos nem aos tapas estalados que recebem nas costas. Isso é parte do espetáculo. Meu foco é a mensagem subliminar do ato de trancafiá-los num local paradisíaco. Nesse subtexto, assisto os promotores dizendo-lhes sem uma palavra, só com o olhar: “Brothers, vocês não são confiáveis, e, por não confiarmos em vocês quando dizem vão nos dar seu voto, entreguem os celulares e as chaves dos carros, entrem aqui e não ousem falar com ninguém!”
Também, BBBs, perdem porque, ao aceitarem ser tratados de forma tão vil, depreciam a voto que o eleitor depositou em vocês. O cidadão enxergou no seu candidato, além de capacidade e empatia, altivez para representá-lo com dignidade, negociando sua participação na política, em qualquer situação, com elevados espíritos público e republicano. Assim, ao deixarem que a relação dispensada pelos promotores os rebaixem ao nível de não confiáveis, ainda que isso não seja verbalizado, desonram a confiança do palmense.
De outro lado, os promotores desse BBB de Lagoa da Confusão também são os grandes derrotados — de novo, de uma perspectiva republicana e democrática. Primeiro, ao sacarem do coldre as práticas coronelistas mais arcaicas, agressivas e antidemocráticas para segurar seu “gado” [eleitores] no “curral”. O que visam com o confinamento dos brothers é impedir o debate democrático, a discussão madura de projetos de cidade e o florescer do espírito público que tanto faz falta ao cenário político do Tocantins. Mostram-se — como eu já havia afirmado semana passada — minúsculos, liliputianos e, dessa forma, também indignos de representar nossa população.
Sobretudo porque a disputa em tela não tem qualquer relação com o plano estadual no qual transitam, mas é algo meramente local. Assim, por que entram nessa disputa com tanto afinco, senão buscar um terceiro turno, inconformados com a derrota que tomaram em outubro?
Infelizmente, caros BBBs, vivemos a pior safra de líderes de nossa história. Esse programa horrendo que assistimos em Lagoa da Confusão é prova disso. Sobra servilismo e faltam altivez e envergadura para se investir em tão importante mandato concedido por nossa população.
Uma pena.
Saudações democráticas,
CT