Caros congressistas tocantinenses,
O fim da reeleição e a definição de um mandato de cinco anos para todo mundo são medidas muito bem-vindas. A reeleição para o Executivo foi um dos maiores erros da história política do País, inclusive reconhecido pelo pai dessa criatura nefasta, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. A possibilidade de obter mais quatro anos no Poder é, sem dúvida, uma das principais causas da deterioração das contas de Estados e municípios. O sujeito arrebenta o tesouro para se reeleger, pensando em remendar o estrago lá na frente. Assume pela segunda vez, não dá conta nem de tomar sequer medidas paliativas e o rombo vai aumentando. De outro lado, senhora e senhores, quatro anos são muito pouco. Um período de cinco anos dá para uma administração eficiente fazer um bom trabalho.
Contudo, a unificação das eleições é um erro absurdo para meramente atender, de forma populista, os apelos de quem não conhece nada de política e das necessidades da democracia. Tem aparência de discurso racional, de que se trata de medida que vai gerar economia ao País, uma narrativa em voga, evocada pela classe média, com toda razão, cansada de pagar caro pela ineficiência da máquina pública, mas que tira conclusões por instinto, não por leitura, estudos e reflexões.
Unificar os processos eleitorais num só ano significa relegar ainda mais uma discussão tão necessária para o futuro de municípios, Estados e Nação. É enfraquecer o debate público e, consequentemente, a própria democracia. O resultado prático desse populismo raso serão gestões muito piores do que as que estão aí e a maior precarização dos serviços e das políticas públicas. Ou seja, os pessoas serão ainda muito mais mal atendidas, os custos da máquina serão maiores, bem como a corrupção, e os reflexos na economia acabarão por se mostrar muito mais desastrosos.
Numa eleição simultânea para prefeito, governador e presidente, o que vai se sobressair, senhora e senhores? As pessoas vão se ater mais aos graves problemas do município, do Estado ou do País? No atual formato das eleições gerais já existe uma grande dificuldade. No primeiro turno o cargo de governador toma o primeiro plano e o de presidente fica para a segunda etapa, quando as lideranças estaduais costumam se posicionar. Acrescentando aí os candidatos a prefeito, esse debate se tornará ainda mais empobrecido, eu diria até interditado. E o que nós precisamos é aprofundar mais a discussão de perfis e propostas de candidatos e não torná-la mais superficial do que já é.
Além disso, prezados congressistas, existe uma certa forma de freio e contrapeso garantido pela eleição intermediária, a de prefeitos e vereadores. Se os governos federal e estadual eleitos na última disputa não vão bem, os eleitores têm a possibilidade de dar mais votos à oposição no pleito seguinte para contrabalançar esse jogo de forças. Isso também vai se perder. Muitos países, inclusive, têm a eleição para o Congresso dois anos depois da do presidente, justamente para fazer esse contrapeso, uma ideia que me agrada demais.
Assim, senhora e senhores, como líderes, vocês poderiam debater essa proposta de forma madura com o eleitorado tocantinense, ainda que haja risco de desgastes. Afinal, encarar as demandas com espírito elevado, sem ceder aos apelos fáceis, emocionais e que representam riscos à República e à democracia, é algo que se espera de quem é líder. Aliás, essa coragem de fazer frente ao senso comum é uma das características que marcaram os grandes nomes da vida pública nacional ao longo da história. É essa postura altiva que nos livra de erros abissais.
Por fim, sempre é bom frisar: viver em democracia é caro mesmo. Barato é ditadura, da qual eu quero distância.
Saudações democráticas,
CT