Caros leitores,
Já estava doido para retomar o trabalho. Desde sempre, sou de curtir os quatro primeiros dias de férias. Depois elas se tornam enfadonhas e, em seguida, angustiantes. Por isso, gosto de descansar no máximo por uma semana, duas ou três vezes por ano. A adrenalina do jornalismo político é minha fonte de vida. Tentei sair algumas vezes, fazer outra coisa, deixar de lado minhas brigas diárias e viver em paz com tudo e com todos, como um pacato cidadão, mas não deu.
No pit-stop dos últimos dias, fiquei apaixonado por Jericoacoara, esse paraíso do litoral cearense. Um vilarejo repleto de gringos de todos os continentes que para lá se deslocam anualmente, sobretudo, para a prática do kitesurf. Com ondas tranquilas e muito vento, Jeri é uma das referências mundiais desse esporte. Assim, de agosto a dezembro, americanos, italianos, alemães, franceses, espanhóis e gente de várias outras nacionalidades tomam a pequena comunidade.
O lugarejo dá lições preciosas de turismo para todos nós, no que diz respeito à sustentabilidade, controle de acesso e preservação dos atrativos. Para se ter ideia, não há sacolas plásticas. Comprei lembranças para meus filhos e a vendedora se desculpou porque nem pacote de presente eles podem oferecer. Carros que transitam pelas ruas de areia fina da vila só os cadastrados, de guias, no intenso vai e vem de buscar e deixar turistas; caminhões para abastecer restaurantes e hotéis; e de serviços públicos, como coleta de lixo. Quem chega com veículo próprio ou alugado precisa deixar num grande estacionamento bem distante do centro pulsante de Jeri. Algumas vias estreitas têm o acesso fechado por corrente e só podem entrar carros para entrega ou deixar turistas.
Nessa quarta-feira, os moradores, guias e empresários locais fizeram um protesto contra a intenção do Poder Público de asfaltar o acesso à vila, só possível atualmente por uma infinidade de estradinhas improvisadas na areia, margeando a praia. Sustentam que vai encher a localidade bem acima de sua capacidade de absorção, destruir a beleza natural, tirar trabalho dos guias e, com isso, o poder da comunidade de controlar as visitações, o que significa destruição de atrativos. Como se já não bastasse a privatização do Parque Nacional de Jericoacoara por míseros R$ 61 milhões, o que gera revolta, conforme os relatos que este epistológrafo ouviu de garçons e atendentes de hotel. Essa privataria dos bens públicos a preço de banana é uma tragédia nacional.
O Tocantins tem enorme potencialidade turística, não me canso de dizer. Do ponto de vista histórico, Porto Nacional, Monte do Carmo, Arraias, Natividade. Religioso são vários atrativos, liderados pelo Bonfim, mas não só ele. Ecológico e de esportes rústicos, nem se fala. Os Rios Tocantins e Araguaia, entre outras dezenas, e outro tanto de cachoeiras belíssimas. Temos todas as condições de encher Palmas ou outra cidade à beira-rio de estrangeiros, cheios de dólares e euros, com uma competição de pesca internacional da mais alta qualidade. Seus praticantes mundo afora tem muito dinheiro e estão dispostos gastá-lo para pegar tucunarés, num pesque e solte, se oferecermos hotelaria de primeira (e hoje já temos várias unidades) e excelência em atendimento. Cavernas são as mais diversas, e poderíamos impulsionar o espeleoturismo, que está muito em voga por todo o mundo. As pinturas rupestres são uma opção, mas, como afirmei nesta quinta no Em Off, elas estão sendo destruídas pela falta de consciência das pessoas e de zelo do setor público.
Essa é a maior indústria do mundo, não poluente e que geraria emprego e renda onde mais precisamos, nos pequenos municípios tocantinenses, com um investimento muito menor do que os necessários para implementar grandes plantas industriais poluentes. Mas estamos muito lentos em relação a outros Estados turísticos, a passos de tartaruga. Temos pressa, precisamos agir agora, com ousadia.
No Estado temos hoje um grande secretário, experiente, com passagem importantíssima pelo Ministério do Turismo. Hercy Filho, a bola está na marca do pênalti para você bater e todo o Tocantins comemorar.
Ainda sobre Jeri, garanto a vocês que o pôr do sol que assisto diariamente aqui no nosso lago é incomparavelmente muito mais lindo.
O que estamos esperando?
Saudações a todos e todas.
Bom estar de volta.
CT