Caros leitores,
Tiro oito dias de folga a partir desta terça-feira. Exausto, ainda não tive tempo para descansar a mente. Preciso entrar no modo “pause”. Trabalhei demais neste ano eleitoral, e a idade e a condição física não me permitem mais desfrutar do sentimento de homem-ferro. Como disse na reta final da campanha, estou na fase “Das Dores”: me doem pés, joelhos, articulações dos dedos, as mãos, antebraços, braços, trapézios e minhas três hérnias cervicais não me deixam jamais esquecer que tenho pescoço. Assim, é hora de desligar os motores, repousar a carcaça para, então, conseguir mais “combustível” e energia para outros 365 dias.
Espero que na minha ausência a pauta fique fria. Odeio, na volta da folga, a sensação de ter perdido algo. Preocupei-me semana passada diante dos bochichos de que poderia haver reviravolta por estes dias. Logo agora que consegui parar um pouco? Se ocorrer algo na minha ausência, vai estragar meu efêmero e raríssimo descanso, ainda que teimarei a muito custo continuar distante dos acontecimentos. Mas a frustração por não estar aqui me consumirá. Me conheço bem.
Contudo, há setores que me garantiram que, se for por isso, posso folgar em paz porque nada vai ocorrer. As feras lá de fora, asseguram, estão sendo muito bem alimentadas e, assim, enquanto se sentirem saciadas, dizem essas fontes, permanecerão sossegadas em suas jaulas e não virão atrás de seus alvos.
Sobre o ano de muita labuta, devo dizer que esta foi umas coberturas eleitorais que mais me cativaram. De um lado, pela maturidade, pela paciência; de outro, pela beleza de algumas campanhas, sobretudo a de Eduardo Siqueira Campos em Palmas. Não simplesmente porque venceu. Ainda que tivesse perdido no segundo turno teria ficado na história.
O roteiro é típico de filmes de “volta por cima campeões de bilheteria”. Alguém que já havia desistido da política, resolve voltar, sai do nada, muitas vezes ridicularizado e vence uma máquina absurdamente forte, uma estrutura imensurável, sem precedentes em nossas eleições, com muita alegria, união, cercado em grande parte do tempo apenas por familiares e amigos. Isso tudo atrai e enreda a maioria da população. Se fosse cinema, teria muita gente chorando ao “the end”. Não tenho dúvida de que foi uma das mais belas campanhas que já cobri nessas mais de três décadas.
Mas, nos próximos dias, nada de política. Somente passeio, mar (ainda que — de verdade — prefira muito mais nossas praias de água doce e nosso pôr do sol sem igual neste planeta), camarão, cerveja e, claro, livros — para mim, não há lazer sem eles. Quero terminar dois, “Os melhores contos de Osman Lins” (genial!) e a obra com o título que mais reflete a razão da desigualdade deste país injusto e desumano, “A elite do atraso”, do grande Jessé de Souza. Estou ansioso para começar ainda nesta semana “A terra inabitável”, do jornalista norte-americano David Wallace-Wells, que trata da autodestruição que nós mesmos programamos para a Terra.
Como se vê, há muita diversão à frente. Meu celular nos próximos oito dias será apenas uma máquina fotográfica. Mas tenham paciência. Dia 28 é bem ali e rapidinho estarei de volta a meu bunker e à trincheira do jornalismo.
Até a volta!
Saudações,
CT